domingo, 11 de dezembro de 2011

TRÊS NATAIS NA GUINÉ

PUBLICADO NO BLOGUE DO LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ E NO FACEBOOK



Guiné 63/74 - P9169: (Ex)citações (163): A época de Natal foi a sempre a altura que mais me custou a passar... E foram 3 (três) Natais que passei no CTIG... (Luís Dias)
1. Comentário ao poste P9148 (*), enviado por Luís Dias (ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74):

Caro Juvenal:

Foram efectivamente três os natais que passámos na Guiné (**). Três épocas de Natal, que nos retiraram das nossas famílias. Foi este o brinde que calhou ao nosso BCAÇ 3872:

(i) O primeiro foi passado no Cumeré, chegadinhos nesse dia 24 de Dezembro de 1971;

(...) "Desembarcámos do navio Angra do Heroísmo, no Cais de Pidjiquiti, fardados de camuflado e com um calor e humidade que o colavam à nossa pele e ouvindo as bocas de periquito vai para o mato, dos estivadores negros e de quem assistia aos primeiros passos daqueles jovens em terras de África, saídos poucos dias antes da Metrópole e roubados ao sossego das suas vidas. Seguimos em viaturas civis para oCumeré, onde o Batalhão ficaria instalado para o IAO e passaria aquela primeira noite" (...) (**).

(ii) Depois o segundo já o passei no Dulombi;

(...) "Em Dezembro de 1972, depois de ter frequentado o Estágio das Unidades Africanas em Bolama e S. João, sob o Comando do então Major Coutinho e Lima, pessoa que me pareceu um excelente militar e um excelente ser humano, consegui regressar à minha Companhia, a tempo de passar o Natal com o meu pessoal, no nosso Dulombi. (...) Foi a festa possível, com cânticos e algumas lágrimas de saudade. Estávamos também em alerta, dado que no princípio desse mês o IN atacara fortemente a sede do batalhão (Galomaro). Comemos o famoso bacalhau liofilizado, mas com a esperança – por sinal errada – que seria o último que passaríamos na Guiné e que em 1973 estaríamos no seio das nossas famílias" (...) (**)

(iii) Mas o terceiro, passei-o uma parte em Nova Lamego (onde o meu Gr Comb estava de intervenção) e depois da meia-noite no mato circundante daquela cidade, em emboscada nocturna.

(...) "Um Natal nestas condições, com o sonho desfeito de voltarmos a casa no tempo previsto, com 24 meses de Guiné já cumpridos e estando fora da Companhia, foram difíceis de gerir e de digerir e os sentimentos que lavravam entre todos nós, eram um misto de revolta e de raiva. Lembro-me que, após a ceia de Natal em Nova Lamego, o Grupo de Combate, pela meia-noite, foi para o mato, substituir outros camaradas que estavam desde o fim da tarde emboscados, para que eles pudessem também vir comer a ceia. Ali ficámos a fazer segurança até ao alvorecer, cada um a pensar, com certeza, na importância de mais um Natal afastado da sua terra, da sua família, dos entes queridos. (....) (**)

A época de Natal foi sempre a altura que mais me custou na Guiné, muito em especial a primeira e a terceira (dado que pensávamos que a passaríamos já em família, pois o tempo da comissão tinha terminado em Outubro).

Se pudéssemos juntar todos os camaradas, as nossas famílias e envolvê-los no Natal que alegria seria! (***)

Obrigado e parabéns pelo que escreveste, pela tua filha e pelo seu aniversário.
Um abraço.
Luís Dias
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A foto que o Blogue do Luís Graça apresentou faz parte do Grupo de Recepção ao General Spínola, Comandante-Chefe, que inaugurou o Quartel do Dulombi, em 27 de Abril de 1972. Tínhamos quase 4 meses de Guiné e eu já havia passado por me terem deixado perdido no mato, após um forte ataque de abelhas, na 1ª operação com os nossos "velhinhos", por um desembarque na Ponta Luís Dias, atravessando as matas do Fiofioli, uma zona de implantação do PAIGC, por uma emboscada/contacto com o IN, por levantamento de mina AC e mina AP. O Batalhão já sofrera 13 mortos em combate.

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