sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

CARTÃO DE BOAS FESTAS

Votos de um Bom Natal e um Feliz Ano Novo de 2009 para todos os leitores, especialmente para os camaradas da C.CAÇ. 3491 e suas famílias, são os desejos do Editor e façam o favor de serem felizes.
Luís Dias.


OS MEUS NATAIS NA GUINÉ

NATAIS NA GUINÉ
O início da nossa comissão na Guiné não poderia ter data tão manifestamente importante para todos aqueles que sentem a época natalícia. A CCAÇ 3491, integrada no BCAÇ 3872, chegou a Bissau a 24 de Dezembro de 1971, na véspera do primeiro de três Natais que iríamos passar naquele território.
Desembarcámos do navio Angra do Heroísmo, no Cais de Pidjiquiti, fardados de camuflado e com um calor e humidade que o colavam à nossa pele e ouvindo as bocas de “periquito vai para o mato”, dos estivadores negros e de quem assistia aos primeiros passos dados por aqueles jovens em terras de África, saídos poucos dias antes da Metrópole e roubados ao sossego das suas vidas. Seguimos em viaturas civis para o Cumeré, onde o Batalhão ficaria instalado para o I.A.O. e passaria aquela primeira noite.
Lembro-me de jantarmos bacalhau, de termos estado a ouvir o cantor Marco Paulo ao vivo (também esteve na Guiné) e quando já estava no quarto com os meus camaradas, por volta das 22/23 horas, fomos surpreendidos com disparos de artilharia ou de outras armas pesadas que do quartel batiam a zona, em virtude de uma flagelação inimiga a um destacamento próximo.
A correria para uma espécie de valas que existiam em redor da parada do quartel ou para debaixo das camas, foi geral, pois todos pensávamos que estávamos a sofrer um ataque do IN. Foi o primeiro de muitos sustos e com alguns feridos ligeiros à mistura, porque nessa espécie de valas, onde alguns procuraram abrigo, existiam garrafas de cerveja partidas, que cortaram muitos dos incautos.
Ficámos logo a saber que mesmo perto de Bissau a pressão do IN podia fazer-se sentir – a guerra estava logo ali – e, meses mais tarde, aquando da passagem pela capital da Guiné a caminho de Lisboa para umas merecidas férias, assisti da messe de oficiais a um ataque a Jabadá, que se situava do outro lado do Rio Geba, quase em frente à principal cidade do CTIG.
Foi um Natal estranho, diferente, sem a companhia da família, imaginando que eles estavam todos juntos em casa dos meus pais. Senti bastante os milhares de quilómetros que nos separavam. Foi triste! Sei também que os meus familiares sofreram com a minha partida (tinha ido para o quartel para embarcar no dia dos meus anos) e com a minha falta à mesa de Natal e que os meus pais tiveram que ter o apoio – felizmente sempre presente – do meu tio Armando e da minha tia Bernardete. Este foi o primeiro Natal na Guiné, mas não seria o último.
Em Dezembro de 1972, depois de ter frequentado o Estágio das Unidades Africanas em Bolama e S. João, sob o Comando do então Major Coutinho e Lima (que iria mais tarde comandar a célebre retirada de Guileje, em 1973), pessoa que me pareceu um excelente militar e um excelente ser humano, consegui regressar à minha companhia, a tempo de passar o Natal com o meu pessoal, no nosso Dulombi. Poder contar-lhes as minhas aventuras durante o estágio, onde sofremos um ataque do PAIGC, a 13 de Dezembro (comandado pelo actual presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, com recurso a canhões sem recuo e morteiros pesados e contando com o apoio de militares cubanos) e como decorrera o restante estágio naquelas bandas.
Foi a festa possível, com cânticos e algumas lágrimas de saudade. Estávamos também em alerta, dado que no princípio desse mês o IN atacara fortemente a sede do batalhão (Galomaro). Comemos o “famoso” bacalhau liofilizado, mas com a esperança – por sinal errada – que seria o último que passaríamos na Guiné e que em 1973 estaríamos no seio das nossas famílias.
No ano seguinte, o meu Grupo de Combate, depois de ter estado uma temporada em apoio ao Batalhão de Piche, passou a prestar apoio ao Batalhão de Nova Lamego, tendo passado ainda por Pirada. Soubemos, entretanto, que não obstante a comissão ter terminado em Outubro, só seríamos substituídos em 1974. Víamos camaradas que tinham vindo em rendição individual e com menos tempo do que nós partirem e nós nada. Esta situação, aliada ao problema dos mísseis terra-ar que tornavam as evacuações dos feridos em combate no mato bastante difíceis, tinham proporcionado um abaixamento da moral das nossas tropas, implicando um trabalho psicológico acrescido para os graduados, para que a disciplina e as regras de segurança, em especial em operações, se mantivessem em elevado grau de eficiência.
Um Natal nestas condições, com o sonho desfeito de voltarmos a casa no tempo previsto, com 24 meses de Guiné já cumpridos e estando fora da companhia, foram difíceis de gerir e de digerir e os sentimentos que lavravam entre todos nós, eram um misto de revolta e de raiva. Lembro-me que, após a ceia de Natal em Nova Lamego, o Grupo de Combate, pela meia-noite, foi para o mato, substituir outros camaradas que estavam desde o fim da tarde emboscados, para que eles pudessem também vir comer a ceia. Ali ficámos a fazer segurança até ao alvorecer, cada um a pensar, com certeza, na importância de mais um Natal afastado da sua terra, da sua família, dos entes queridos.
Foi efectivamente o último, mas regressámos vivos e voltámos a comemorar estas datas com as nossas famílias e amigos. Outros, infelizmente, não tiveram a mesma sorte, porque a “boa estrela” perderam, numa qualquer picada, trilho, vala, ou bolanha, nas terras da Guiné.
Anos mais tarde, no âmbito da minha profissão tive outros natais dificeis, complicados, nomeadamente uma véspera de Natal que passei com outros colegas no campanário da Sé de Braga, sim é verdade naquela velha igreja, com um frio de rachar, passei ali a noite à espera que fosse assaltada.....felizmente nada se passou e no dia 25 de Dezembro regressámos a casa, mas eu tive um princípio de paragem de digestão, em virtude das baixas temperaturas que ali se registavam, que só foi tratada com umas águas das pedras que me arranjaram....bolas, foi cá uma má disposição, estava a ver que esse era, na verdade, o meu último Natal.
Digo-vos caros camaradas que desde esses tempos passei a ver o Natal com outro olhar…com outro sentimento!
Aproveito a oportunidade para desejar a todos aqueles que nos lêem, em especial aos amigos e camaradas da Tabanca Grande e aos elementos da Ex-CCAÇ 3491, um Bom Natal e um Ano Novo Próspero, extensivo às respectivas famílias e que a Boa Estrela nos guie.

Luís Dias
















quarta-feira, 5 de novembro de 2008

ARMAMENTO E EQUIPAMENTO DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS E DOS GUERRILHEIROS DO PAIGC NA GUERRA COLONIAL

GUINÉ

1971 - 1974


Autor: Luís Dias

……Chegastes meninos! Partis Homens!

General, António de Spínola


Monumento aos Combatentes da Guerra do Ultramar – Lisboa

A todos aqueles que como combatentes palmilharam as matas, trilhos, bolanhas, picadas, estradas e rios das terras quentes da Guiné, durante a Guerra Colonial.

Ao II Grupo de Combate da C.CAÇ 3491, os meus dilectos camaradas de armas, de "Alma Forte" - Os Lenços Azuis do Dulombi.

ARMAMENTO E EQUIPAMENTO DAS FORÇAS PORTUGUESAS E DAS FORÇAS DO PAIGC NA GUERRA COLONIAL

Guiné 1971 – 1974

Iª PARTE


1. ARMAMENTO LIGEIRO

1.1 AS PISTOLAS

1.1.1 FORÇAS PORTUGUESAS:

No século XX, o Exército Português, seguindo os padrões ocidentais, trocou o revólver pela pistola, adoptando, primeiramente, em 1908, a pistola Luger, de origem alemã, no calibre 7,65 mm Parabellum e a Marinha, a Luger, no calibre 9 mm Parabellum (ou seja, ao mesmo tempo que foi distribuída ao exército alemão). Portugal volta a adquirir em 1935 mais pistolas Luger para a GNR, ainda no calibre 7,65 mm Parabellum e, mais tarde, em 1943, volta a comprar, em plena II Guerra Mundial, pagando com a exportação de volfrâmio, 4500 pistolas, no calibre 9 mm Parabellum, passando a ser conhecida como Pistola 9 mm m/943 Luger Parabellum (usualmente chamada apenas de Parabellum) que foi a principal pistola do exército português até aos anos 60.
Durante a I Guerra Mundial, dado estarmos em guerra com a Alemanha e precisarmos de uma pistola para completar o armamento do exército, foi adquirida em 1915, a pistola m/908, Savage, de EUA, no calibre 7,65 mm, com o nome de Pistola 7,65 mm m/915 Savage. Esta pistola foi usada em paralelo com a Luger, tendo sido distribuída também à GNR e depois à PSP. Foram retiradas do serviço com a aquisição em 1961 da pistola Walther P-38 (nalguns teatros de guerra, como Angola, em unidades de cavalaria, continuou a usar-se, em paralelo, a Luger).
As forças portuguesas tinham como pistola regulamentar a PISTOLA WALTHER P-38.



Walther P-38

A pistola Walther P-38 é uma arma semi-automática, com origem na Alemanha (fábrica Carl Walther), datada originalmente de 1938 e foi a substituta da Luger, sendo a principal pistola alemã da II Guerra Mundial, com provas dadas em diversos teatros de guerra. Em meados dos anos 50, foi seleccionada para equipar o novo Exército da RFA, e com ligeiras alterações passou a denominar-se P1 e é este modelo que veio para Portugal, passando a ser a pistola das guerras de África.

Características desta arma

TIPO: Pistola semiauto
PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
CALIBRE: 9 mm Parabellum
DATA DE FABRICO INICIAL: 1938
NÚMERO DE ESTRIAS: 6
ALCANCE MÁXIMO: 1 600 m
ALCANCE ÚTIL: 50 m
ALCANCE PRÁTICO: 5 a 10 m
PESO: 0, 867 Kg com carregador com 8 munições
MUNIÇÂO: 9x19 mm a 8 g
ALIMENTAÇÃO: 8 munições num carregador unifilar metálico, colocado no punho da arma
MECANISMO DE SEGURANÇA: Fecho de segurança lateral com imobilização do percutor e imobilização do desarmador


FUNCIONAMENTO: Arma de tiro semi-automático com curto recuo do cano e de acção dupla

1.1.2 FORÇAS DO PAIGC

A pistola usada pelas forças de guerrilha do PAIGC era, principalmente, a TOKAREV TT-33



Tokarev TT-33

A pistola Tula Tokarev TT-33 surgiu na URSS, baseada no desenho da Colt-Browning e foi a pistola das forças da União Soviética durante a II Guerra Mundial, vindo posteriormente a ser fabricada pelos países do Pacto de Varsóvia e pela China até ser substituída pela Makarov, no calibre 9 mm Mk.

Características desta arma

TIPO: Pistola semiauto
PAÌS DE ORIGEM: URSS, países do Pacto de Varsóvia e China
CALIBRE: 7,62 mm Type P
DATA DE FABRICO INICIAL: 1933
ALCANCE ÚTIL: 50 m
ALCANCE PRÁTICO: 5 a 10 m
PESO: 0,840 kg com carregador com 8 munições.
MUNIÇÂO: 7,62 mmx25 Tokarev
ALIMENTAÇÃO: 8 munições num carregador unifilar colocado no punho
SEGURANÇA: A única segurança é feita pelo cão travado (half-cock) a meio de ser armado
FUNCIONAMENTO: Pistola semi-automática, funcionando por recuo do cano e de acção simples

As forças do PAIGC possuíram ainda pistolas CZ, de origem Checoslovaca, nos calibres 6,35 mm e 7,65 mm.

1.1.3 OBSERVAÇÕES

A pistola Walther P-38, é uma arma de grande qualidade, muito robusta, tendo-se mantido ao serviço das forças armadas portuguesas ao longo de todos estes anos, embora se preveja vir a ser substituída em breve. É uma arma excelente para tiro prático, sendo nitidamente superior, quer no tipo de munição utilizada (9 mm Parabellum), quer no seu funcionamento, à Tokarev que, segundo alguns autores, encravava com alguma facilidade devido a problemas com o carregador. A Walther tem ainda a vantagem de funcionar por acção dupla (rapidez de disparo) ao contrário da Tokarev que funciona unicamente por acção simples.

1.2 AS PISTOLAS-METRALHADORAS

1.2.1 FORÇAS PORTUGUESAS

Portugal terá adquirido em 1928 para o Exército e como primeira pistola-metralhadora a Thompson m/928, de origem EUA, em pequenas quantidades e rapidamente retirada de serviço. A segunda PM, foi a Bergmann m/929, de origem alemã, no calibre 7,65 mm, que foi entregue ao Exército e também à GNR, mas o seu tempo de utilidade não foi muito. A terceira pistola-metralhadora foi a Steyr, de origem austríaca, nos modelos m/935, no calibre 11,43 mm e m/942, no calibre 9 mm Parabellum. No após II GM, com o início do fabrico da nossa FBP, a Steyr foi retirada. Outra PM utilizada e que veio para Portugal durante a II Guerra Mundial (1942) foi a Sten Mk II, de origem britânica, no calibre 9 mm Parabellum, incluída nos carros de combate Valentine e nas auto-metralhadoras Humber. Foi usada pela cavalaria para guarnecer as tripulações dos carros de combate e de veículos de reconhecimento blindados e terá ainda sido usada em África, no princípio dos anos 60 e na Índia, nos anos 50.
Face ao início da sublevação em Angola, Portugal adquiriu três modelos de pistolas-metralhadoras, a Vigneron m/961, de origem belga, no calibre 9mm Parabellum, a Sterling m/961, de origem britânica, também no calibre 9 mm Parabellum e ainda a UZI, de origem israelita, no calibre 9 mm Parabellum, muito utilizada pelos graduados em África, todas em pequenas quantidades e que foram usadas ao mesmo tempo que a FBP.
A Fábrica de Braço de Prata desenvolvera no pós-guerra uma PM, do Major de Artilharia, Gonçalves Cardoso, a que dá o nome de FBP m/1948, baseada na Schmeisser MP 40 alemã e na M3 americana, no calibre 9 mm Parabellum e apenas a funcionar em tiro automático. A partir do modelo de 1961 a mesma já tem selector de tiro, podendo efectuar tiro semi-automático ou de rajada. A PISTOLA-METRALHADORA FBP M/961 iria ser a PM mais utilizada na guerra de África.

FBP m/961

Características desta arma

TIPO: Pistola-metralhadora
PAÍS DE ORIGEM: Portugal
CALIBRE: 9 mm Parabellum
DATA DE FABRICO INICIAL: 1961
ALCANCE EFICAZ: 100 m
ALCANCE ÚTIL: 25 a 50 m
PESO: 4,020 kg com carregador municiado
COMPRIMENTO: 805 mm
MUNIÇÂO: 9x19 mm Parabellum a 8 g
VELOCIDADE DE SAÍDA DO PROJÉCTIL: 360 m/s
ALIMENTAÇÃO: Carregador metálico unifilar com 32 munições
SEGURANÇA: Imobilização da culatra
FUNCIONAMENTO: Arma de tiro selectivo automático e semi-automático, funcionando por inércia da culatra, na posição aberta
CADÊNCIA DE TIRO: 500 tpm

A FBP m/976 já possuía uma manga de refrigeração no cano, tornando-a mais precisa e fácil de controlar no disparo automático.
Interessante é dizer-se que a PM FBP possuía uma baioneta, que seria caso único neste tipo de arma.

1.2.2 FORÇAS DO PAIGC

O PAIGC teve vários modelos de pistolas-metralhadoras, de variadas origens, mas aquelas que eram mais utilizados no tempo em apreço eram: a PPSH-41 e a PPS-43.
PPSH-41 “Shpagin”

A pistola-metralhadora PPSH-41, concebida por Georgii Shpagin, conhecida pelas nossas forças como a “costureirinha”, foi uma das PM mais fabricadas no mundo (mais 6 milhões de exemplares), e largamente utilizada pelo exército soviético na II Guerra Mundial. No pós-guerra foi usada nos países satélites, na China, Vietname e nos movimentos de libertação africanos.

Características da arma

TIPO: Pistola-metralhadora
PAÍS DE ORIGEM: URSS
CALIBRE: 7,62 mm Type P
DATA DE FABRICO INICIAL: 1941
ALCANCE EFICAZ: 200 m
ALCANCE PRÁTICO: 25 a 50 m
PESO: 5,45 Kg com tambor de 71 munições; 4,30 Kg com carregador de 35 munições
COMPRIMENTO: 843 mm
MUNIÇÂO: 7,62 mmx25 Tokarev
VELOCIDADE DE SAÍDA DO PROJÉCTIL: 488 m/s
ALIMENTAÇÃO: Tambor de 71 munições ou carregador curvo de 35 munições
SEGURANÇA: Através de travamento da culatra na posição recuada ou quando fechada.
FUNCIONAMENTO: Arma de disparo selectivo de tiro (auto ou semi-auto), funcionando por inércia da culatra, através da posição aberta
CADÊNCIA DE TIRO: 900 tpm

Sudaev PPS-43

A Sudaev(Pistolet-Sulemet Sudaev) foi fabricada na II Guerra Mundial pela URSS, com o desenho de Sudaev, entre 1943 e 1946 (perto de 2 milhões de PM), e era uma arma mais compacta que a sua antecedente, sendo distribuída às unidades blindadas e pára-quedistas. Alguns autores afirmam tratar-se da melhor PM da II GM. Após a guerra foi exportada para muitos países pró-comunistas e também muito copiada por muitos outros.

Características da arma

TIPO: Pistola-metralhadora
PAÍS DE ORIGEM: URSS
CALIBRE: 7,62mm Type P
DATA DE FABRICO INICIAL: 1943
ALCANCE EFICAZ: 200 m
ALCANCE PRÁTICO: 25 a 50 m
PESO: 3,67 Kg com o carregador completo
COMPRIMENTO: 831 mm
MUNIÇÃO: 7,62x25 mm Tokarev
VELOCIDADE DE SAÍDA DO PROJÉCTIL: 500 m/s
ALIMENTAÇÃO: Carregador curvo com 35 projécteis
SEGURANÇA: Colocada à frente do guarda mato, travando a culatra
FUNCIONAMENTO: Arma de disparo unicamente automático, funcionando por inércia da culatra, partindo da posição recuada/aberta
CADÊNCIA DE TIRO: 500 a 600 tpm

1.2.3 OBSERVAÇÕES

A pistola-metralhadora FBP não era uma arma fiável, porque tinha a mola de soltura do carregador numa posição que poderia fazer com que alguém, mais nervoso, empunhando mal a arma, carregasse na mola inadvertidamente, soltando o carregador e se desse ao gatilho não sairia nenhum projéctil. Por outro lado, o sistema de segurança não era famoso, porque em caso de queda da arma, poderia dar-se o disparo da mesma (aconteceu-me no Dulombi, em que a arma caiu no quarto e efectuou um disparo inadvertido que, felizmente, não teve consequências). Por estas razões, esta arma, no período em apreço, não era muito utilizada em termos operacionais. O aço do seu cano era, esse sim, de muita qualidade.
A célebre “costureirinha” dava fama ao nome devido ao “seu cantar” muito próprio (elevada cadência de disparos). Era uma arma pesada, com uma munição não muito potente e com problemas de falhas no funcionamento, quando utilizava o tambor, tornando-se incómoda no transporte, face à sua configuração e devido à sua elevada cadência, consumia muitas munições, não sendo também muito precisa.
A Sudaev aparecia em poucas quantidades e era tecnicamente superior à Shpagin, embora só produzisse disparo automático, compensando, contudo, por ter uma cadência bem mais baixa.

Munição 7,62x25 mm Type P/Tokarev, utilizada na pistola TT33 e nas Pistolas-metralhadoras PPSH-41 e PPS-43

Munição 9x19 mm Parabellum ou Luger, utilizada na pistola Walther P-38 e nas pistolas-metralhadoras ao serviço das forças armadas portuguesas.

1.3 AS ESPINGARDAS

1.3.1 FORÇAS PORTUGUESAS

Uma das primeiras espingardas de retrocarga que Portugal teve, embora em pequena quantidade foi a Martini, de origem inglesa, no calibre 11,43 mm, que chegou ao nosso país em 1879. Em 1883, o Alferes do Exército, Luís Castro Guedes, terá apresentado à comissão nacional uma espingarda de sua concepção, num sistema semelhante à Martini, mas de mecanismo diferente – A espingarda Castro Guedes, no calibre 8 mm. Em 1886, o processo de fabrico desta arma é suspenso, quando já existiam alguns milhares de espingardas na fábrica Steyr na Áustria. Por troca, o nosso país recebeu a espingarda Kropatschek, no calibre de 8 mm e mais tarde a carabina da mesma marca. Esta arma de repetição iria ser importante nas campanhas de Pacificação em África, na década de 1890. No final do século XIX, princípio do século XX, Portugal adquire a espingarda Mannlicher, de origem austríaca, no calibre 6,5 mm, por ser mais rápida no carregamento que a anterior (recurso a lâmina de recarregamento), que virá a transformar em 1946, na Fábrica de Braço de Prata, para o calibre 5,6 mm e serão usadas para instrução de tiro. Em 1904 o capitão Alberto Vergueiro concebe uma culatra de ferrolho, diferente do da Mauser e que foi adaptada a esta arma (Mauser G-1898), com o nome de Mauser-Vergueiro m/904, no calibre 6,5 mm, mais tarde no calibre 7,9 mm e que foi a arma padrão do Exército, na I Guerra Mundial nos teatros africanos (Angola e Moçambique) e no continente e ilhas, sendo que o Corpo Expedicionário Português em França, usou a espingarda inglesa Lee-Enfield m/MK III, no calibre 7,7 mm.
Em 1937, Portugal adopta a Mauser 98K, com o cartucho de 7,9 mm, de origem alemã, com a denominação Mauser m/937, de 7,9 mm, que é considerada a melhor espingarda de repetição jamais fabricada. É uma das principais armas que segue para Angola, no início do conflito, mas é rapidamente substituída pela chegada das espingardas automáticas. Foi, no entanto, distribuída até 1974, às unidades de recrutamento nativo e na Guiné ela estava presente nos reordenamentos constituídos em auto-defesa e existiam algumas nas tropas de quadrícula.

Mauser 98k

Características desta arma

TIPO: Espingarda de repetição
PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
CALIBRE: 7, 9 mm
DATA DE FABRICO INICIAL: 1935
NÚMERO DE ESTRIAS: 4
ALCANCE MÁXIMO: 4 500 m
ALCANCE EFICAZ: 1 500 m
PESO: 4 Kg com munições
COMPRIMENTO: 1, 10 m
MUNIÇÃO: 7,92x35,3 mm Mauser
VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 755 m/s
ALIMENTAÇÃO: Depósito fixo para 5 munições
SEGURANÇA: Imobilização do percutor/cão
FUNCIONAMENTO: Arma de retrocarga de tiro de repetição

1.3.2 FORÇAS DO PAIGC

As forças do PAIGC, mantinham ainda em algumas unidades a espingarda de repetição Mosin-Nagant que, nos seus variados modelos (M1891-1910, M1891-1930, M1891-1938 e M1891-1944), já tinha servido em muitas guerras, desde a Guerra Russo/Japonesa, a I Guerra Mundial, passando pela Revolução Soviética, a Guerra Finlo/Russa, II Guerra Mundial, Guerra da Coreia e Guerra do Vietname, sendo conhecido por “Vintovka Mosina” (espingarda Mosin), entrando ao serviço do Czar Russo em 1891 e mantendo-se em serviço por mais de 60 anos. Foi inventada pelo Capitão Sergei Mosin e pelo desenhador belga Léon Nagant. O modelo M1891-1930 era muito usado pelos “snipers” russos, em especial os famosos Vasily Grigoryevich Zaitsev e Lyundmila Pavlichenko. Uma das particularidades era a arma possuir uma baioneta retráctil incorporada. Foi fabricada em muitos outros países, como a Finlândia, a ex-Checoslováquia, Polónia, Hungria e China.

Espingarda Mosin-Nagant

Características da arma

TIPO: Espingarda/Carabina de repetição
ORIGEM: Rússia
DATAS: M1891, M1891-1910, M1891-1930, M1891-1938 e M944
CALIBRE: 7,62x54 mm R
ALCANCE MÁXIMO:
ALCANCE ÚTIL:
PESO: 3, 9 Kg
COMPRIMENTO: 1020 mm
MUNIÇÂO: 7,62x54 mm
VELOCIDADE INICIAL DO PROJÈCTIL: 800 m/s
ALIMENTAÇÂO: Depósito fixo de 5 munições
SEGURANÇA:
FUNCIONAMENTO: Arma de retrocarga de tiro de repetição


Simonov SKS

A URSS, com a experiência que estava a ter na II Guerra Mundial, tinha chegado à conclusão da necessidade da criação de uma arma mais curta que as espingardas que existiam, que pudesse operar mais rapidamente, com mais capacidade de fogo, mas mantendo a mesma eficácia. Iniciaram com a criação da Simonov AVS-36, depois a Tokarev SVT-38 e SVT-40 e perto do fim da guerra surgiu a Simonov SKS, que ainda foi utilizada contra os alemães, embora só em 1949 tenha sido adoptada oficialmente. A arma foi posteriormente substituída pela Kalashnikov, mas continuou a ser fabricada pelos países do Pacto de Varsóvia, China, Vietname e Coreia do Norte (largamente utilizada na Guerra da Coreia) e mais tarde entregue aos movimentos de libertação que operavam em diversos pontos do globo.

Características desta arma

TIPO: Espingarda semiautomática
PAÍS DE ORIGEM: URSS
CALIBRE: 7,62 mm M43
DATA DE FABRICO INICIAL: 1945
ALCANCE MÁXIMO:
ALCANCE ÚTIL: 400 m
PESO: 3,850 Kg
COMPRIMENTO: 1, 021 mm
MUNIÇÃO: 7,62 mmx39
VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 735 m/s
ALIMENTAÇÃO: Carregador interno de 10 munições
SEGURANÇA: Através de patilha situada no guarda-mato
FUNCIONAMENTO: Espingarda semi-automática operando através de tomada de gases

1.3.3 OBSERVAÇÕES

A espingarda Mauser, embora sendo uma excelente arma, estava deslocada no tipo de guerra que enfrentávamos em África, podendo, eventualmente, ser utilizada como arma de “sniper”, ou em defesa de aquartelamentos.
A Simonov era uma excelente arma, um pouco mais curta que a Mauser e com a vantagem de ser uma a arma que efectuava tiro a tiro automaticamente e possuía um projéctil mais moderno – o mesmo da AK-47. Alguns autores dizem que sofria interrupções de tiro por problemas com o percutor, mas que os modelos mais modernos, em especial a SKS da antiga Jugoslávia, tinham ultrapassado esse problema. Foi muito utilizada nos movimentos guerrilheiros que combatiam as forças portuguesas, em substituição da espingarda Mosin-Nagant (já eram pouco usadas), mas na Guiné, nos anos a que me refiro, a mesma já não se via tanto nas forças do PAIGC, em virtude do aumento da utilização de vários modelos de Kalashnikov.

1.4 AS ESPINGARDAS AUTOMÁTICAS

1.4.1 FORÇAS PORTUGUESAS

A necessidade de obtenção de uma espingarda automática, mais conhecida internacionalmente pela designação de fuzil (ou espingarda) de assalto, só se sentiu em Portugal com o início da luta armada em África, em 1961. Havia o forte imperativo de substituir a velha Mauser por uma arma que efectuasse fogo automático e selectivo, que eram já um importante progresso em relação às espingardas da II Guerra Mundial, na sua maioria em ferrolho.
Perto do final da guerra os alemães conceberam e desenvolveram a mãe de todos os fuzis de assalto modernos – a Stg 44 “Sturmgewehr”, ou MP44 (espingarda de assalto), no calibre 7,9 Kurtz, capaz de efectuar, tanto fogo semi-automático (tiro a tiro) como fogo automático (em rajada), actuando por meio de acção de gases, mas só terão conseguido fabricar 420 000 armas. Anteriormente, em 1942, já tinham apresentado uma arma – a FG-42, que seria uma das precursoras dos fuzis de assalto (embora já tivesse havido tentativas de outros países de conceberem uma arma deste tipo – a Cei-Rigotti, de origem italiana, a Federov Avtomat, a Simonov AVS e a Tokarev AVT, todas da URSS, a Browning BAR M1918, dos EUA, a FN M30 da Bélgica, etc.), contudo, embora efectuasse quer tiro semi-automático, quer tiro automático, nesta última situação tinha de partir da posição de culatra aberta, à semelhança das pistolas-metralhadoras de então. Depois da guerra, quer os russos, com a sua AK-47, quer os Belgas, com FN-FAL, a Espanha com a CETME e a República Federal Alemã, com a HK G3 e os americanos com a Colt M16, tornaram o novo conceito de arma individual uma realidade, evoluindo da velha Stg 44.
Das observações e avaliações efectuadas às armas propostas – a FN–FAL, de origem belga e a HK G3, cuja origem era a República Federal Alemã, a opção foi pela G3 (dadas as vantagens económicas que a HK ofereceu para o fabrico em Portugal), mas a urgência deste tipo de armas levou a que se adquirissem um lote de Armalite AR-10, de origem EUA, no calibre, 7,62 mm NATO, na Holanda, cerca de 4 800 FN-FAL, no calibre 7,62 mm NATO à Bélgica e outras 15 000 “emprestadas” pela Alemanha, enquanto não arrancasse a produção das G3, e mais 12 500, também “emprestadas” pela África do Sul. Contudo, assim que se começou a receber a HK G3 em quantidades suficientes, as FN foram devolvidas à Alemanha e à África do Sul. As FN-FAL que ficaram foram, essencialmente, entregues a grupos especiais africanos dependentes da PIDE ou a Milícias dependentes do Exército.
Em 1973, quando comandei a instrução de uma Companhia de Milícias no CIMIL de Bambadinca, e já perto do fim da instrução fomos surpreendidos com a entrega de FN-FAL aos milícias, quando a instrução estava a ser efectuada com as HK G3, obrigando-nos a dar uma instrução de manuseamento desta arma, que funcionava com algumas diferenças da G3. Embora as armas apresentassem um “ar” de novas, vimos que as mesmas eram recuperadas de outras “guerras”, nomeadamente de Angola. Recordo-me de ter falado com o Major responsável em Bissau pelo armamento e lhe dizer que algumas das armas tinham interrupções de tiro com frequência, afirmando ele que eram “novas” e eu ter retorquido que eram velhas, tinham é sido pintadas de novo, até porque muitas delas tinham ainda marcas nas coronhas, que eram de madeira, feitas à mão, com os dizeres Angola ano tal e tal….


Espingarda de Assalto FN –FAL M/961

A FN FAL (Fusile Automatique Legére) resultou dos estudos da fábrica FN, iniciados em 1946, para um fuzil de assalto que utilizasse a munição 7,92 Kurtz alemã, mas mais tarde, redimensionaram a arma para o 7,62X51 mm, a munição da NATO, surgindo assim em 1953 a FN-FAL, adoptada em 1955 pelo Canadá como a C1, em 1956 pela Bélgica, em 1957 pelo Reino Unido, como L1A1 e em 1958 pela Aústria, como Stg 58, surgindo também no Brasil, Turquia, África do Sul e Israel. A própria RFA propôs um acordo à FN, para produzirem no seu país a FN como a G1, mas como a FN não aceitou, a RFA adquiriu os direitos da CETME espanhola e apresentou a HK G3, a maior rival da FN-FAL.

Características desta arma

TIPO: Espingarda automática
PAÍS DE ORIGEM: Bélgica
CALIBRE: 7,62 mm NATO
NÚMERO DE ESTRIAS: 4
DATA DE FABRICO: 1953
ALCANCE MÁXIMO: 2000 m
ALCANCE ÚTIL: 300 m
ALCANCE PRÁCTICO: 100 a 200 m
PESO: 4,700 Kg com o carregador de munições cheio
COMPRIMENTO: 1,10 m
MUNIÇÃO: 7,62x51mm
VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 840 m/s
ALIMENTAÇÃO: Carregador metálico de 20 munições
SEGURANÇA: Através da patilha de segurança, por imobilização do gatilho
FUNCIONA.MENTO: Espingarda automática, de tiro selectivo, com tomada de gases num ponto do cano
CADÊNCIA DE TIRO: 600-700 t/m

A espingarda automática HK G3 foi a arma de assalto escolhida por Portugal para servir as Forças Armadas Portuguesas, na Guerra Colonial, a partir de 1961. A arma foi adoptada em 1959, pelo exército da RFA, e teve origem num grupo de engenheiros alemães que, no pós-guerra, foram para Espanha e desenharam a espingarda CETME, que foi adoptada pelo Exército Espanhol. A firma Heckler & Koch foi encarregue pelo governo da RFA (que recentemente tinha sido aceite na NATO), de adquirir os direitos da arma e com algumas alterações apresenta a Espingarda 3 (Gewehr 3/G3), no calibre 7,62x51 mm (NATO). A arma foi um sucesso, rivalizando com a FN-FAL, e sendo adquirida por muitos países ocidentais que não tinham optado pela FN. Ao fim de alguns anos estava a ser usada por 60 países e fabricada sob licença em 13, salientando-se a Turquia, Grécia, Noruega, Arábia Saudita, Paquistão, Irão e Portugal.
As primeiras armas adquiridas como HK G3 m/961 eram as G3, em coronha e fuste em madeira e as G3A1 com coronha dobrável. Mais tarde, surgiu o modelo m/963, fabricado sob licença pela Fábrica de Braço de Prata, denominadas G3A3, com novo supressor de chama, mira diópter, coronha e fuste em plástico e a G3A4, com coronha rebatível (pára-quedistas).
Esta arma manteve em serviço no Exército Alemão até 1997 e continua ao serviço do Exército Português, esperando-se para breve a sua substituição. Em 1974, as Forças Armadas Portuguesas detinham 298 000 espingardas G3. O facto de estar ao nosso serviço há mais de 40 anos diz tudo deste belíssima arma.


Em cima a Espingarda de Assalto HK G3A3 e em baixo o modelo HK G3A4

Características desta arma

TIPO: Espingarda automática
PAÍS DE ORIGEM: RFA
CALIBRE: 7,62 mm NATO
NÚMERO DE ESTRIAS: 4
DATA DE FABRICO: 1958
ALCANCE MÁXIMO: 2 000 m
ALCANCE ÚTIL: 400 m
ALCANCE PRÁTICO: Entre 100 e 200 m
PESO: 4, 6 Kg com o carregador de munições cheio
COMPRIMENTO: 1, 023 m
MUNIÇÃO: 7,62X51 mm
VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 800 m/s
ALIMENTAÇÃO: Carregador metálico de 20 munições
SEGURANÇA: Imobilização do mecanismo de disparar
FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, por acção de gases na base da culatra
CADÊNCIA DE TIRO: 600-650 t/m

1.4. 2 FORÇAS DO PAIGC

As forças do PAIGC tinham como espingarda de assalto a Kalashnikov AK-47, nos vários modelos dos países que integravam o bloco soviético, ainda da China e da Coreia do Norte, começando também a aparecer o modelo AKM.
A espingarda automática Kalashnikov foi inventada pelo General Mikhail Kalashnikov (na altura sargento), e aprovada para o projéctil 7,62 mm M43, surgindo com o nome de AK-47, adoptada pela URSS como arma oficial das suas forças armadas, em 1949, modificada posteriormente em 1952, ficando como o modelo AK-47/52. Trata-se, sem sombra de dúvida, da arma mais difundida mundialmente, participando em todos os conflitos importantes do pós-II Guerra Mundial, em especial emprestando aos movimentos guerrilheiros uma arma que ficará como símbolo de independência. A Avtomat Kalashnikov foi tendo alterações nomeadamente no início dos anos 60, com a AKM (Avtomat Kalashnikov Modernizirovannyj), em 1974 com a AK-74, com alteração para o calibre 5,45 mm e com um supressor totalmente diferente e em finais dos anos 70 surge a AKS-74U, conhecida por surgir em diversas fotos do Bin Laden.
Essencialmente, o modelo mais visto na Guiné era a AK-47 ou AK-47/52, com origem em diversos países do Leste Europeu e da China.


Espingarda de Assalto Kalashnikov AK-47

Características desta arma

TIPO: Espingarda automática
PAÍS DE ORIGEM: URSS e países do bloco soviético, China e Coreia do Norte
CALIBRE: 7,62 mm M43
DATA DE FABRICO: 1947
ALCANCE MÁXIMO: 1 500 m
ALCANCE ÚTIL: 400 m
ALCANCE PRÁTICO: 100 m
PESO: 4, 8 Kg com o carregador cheio de munições
COMPRIMENTO: 870 mm
MUNIÇÃO: 7,62X39 mm
VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 700 m/s
ALIMENTAÇÃO: Carregadores metálicos com 30 munições
SEGURANÇA: Imobilização do mecanismo de disparar
FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, funcionando por acção de gases num ponto do cano
CADÊNCIA DE TIRO: 600 t/m

1.4.3 OBSERVAÇÕES

No meu ponto de vista e em comparação com a FN-FAL, a HK G3 tinha melhor qualidade, não tendo tantas interrupções de tiro quanto a FN, trabalhando melhor nas condições e tratamento que as nossas tropas lhe davam. Algumas pessoas diziam que a FN era melhor, devido ao sistema do aparelho de pontaria, no tiro de precisão, mas eu, posso dizê-lo, efectuei disparos a distâncias muito consideráveis, tendo sempre atingido o alvo com a G3. Uma das vantagens da FN era a de; quando terminavam as munições no carregador inserido na arma, a culatra ficava atrás, como na maioria das pistolas, simplificando a operação de introdução de novo carregador e a posterior ida do bloco à frente, introduzindo um novo projéctil na câmara, o que não se passava com a G3.
A Aka ou Kala é uma arma robusta, simples, barata, trabalhando bem em condições de pouca limpeza (o segredo estará nas folgas do seu mecanismo), mais curta que a G3, com o mesmo peso sensivelmente, com mais capacidade de munições no carregador, não tão fiável no tiro de precisão. Tinha um estampido poderoso e peculiar. Possuía uma ergonomia fantástica, que lhe conferia um aspecto aguerrido, muito do agrado de muitas forças militares.
A nossa G3 era uma arma muito grande para o nosso tipo de guerra, era uma arma cara, devido ao sistema dos roletes, mas funcionava muito bem, mesmo em condições difíceis e de pouca limpeza. Tinha um estampido muito forte, conseguindo sobrepor-se ao da Kalashnkov, o que tranquilizava as nossas tropas quando na nossa resposta a um ataque do IN, passávamos a ouvir o “cantar” da G3. A munição da Kalash, não tendo as capacidades da 7,62 mm NATO, em termos de velocidade inicial e poder de perfuração (perfurava em 80%, numa distância a 550 m, uma chapa de aço de 3,5 mm), o seu projéctil produzia, contudo, ferimentos terríveis, devido ao filamento em aço inserido no núcleo da bala, que a desequilibrava quando atingia o corpo humano. Em termos de fogo automático a G3 era mais equilibrada, conseguindo compactar bastantes projécteis na zona seleccionada, enquanto a Kalashnikov, em fogo automático, dispersava mais os impactos, um problema, segundo alguns autores, derivado do supressor que usava e que foi substancialmente melhorado com a AKM e em especial com a AK-74, que dizem ter um dos melhores supressores existentes, proporcionando um melhor equilíbrio na arma.

Um pormenor importante no qual a G3 suplantava a AK era a patilha de segurança. De facto a passagem da posição de segurança para a posição de fogo (tiro a tiro e para rajada) na G3 era silenciosa ao contrario da AK, o que no mato podia, em determinadas condições, ser fundamental para o efeito surpresa.

1.5 AS METRALHADORAS LIGEIRAS

1.5.1 FORÇAS PORTUGUESAS

Em 1917, o Corpo Expedicionário Português que vai combater em França, recebe da Inglaterra a metralhadora ligeira (ML) Lewis, de origem inglesa (embora inventada por um coronel americano), no calibre 7,7 mm e que será a primeira ML do Exército Português. No regresso o CEP trouxe as Lewis que ainda nos finais dos anos 50 eram as metralhadoras usadas em diversas colónias portuguesas. Em 1930, foram adquiridas metralhadoras Madsen, de origem dinamarquesa, no calibre 7,7 mm, que iriam ser as ML de cavalaria, alteradas em 1939 para o calibre 7,9 mm. Ainda em 1931 são adquiridas a ML Vickers-Berthier, denominadas Vickers-Berthier m/931 e m/936, de origem inglesa, no calibre 7,7 mm, destinadas à infantaria e à GNR. A arma nunca foi muito bem vista e nos anos 50 já não estava ao serviço, ao contrário da Lewis. Também em 1938, Portugal adquire à Alemanha, a Dreyse MG13, com a denominação de ML m/938, no calibre 7,9 mm, que se manterá até 1962, especialmente nas colónias portuguesas. Em plena II Guerra Mundial, em virtude do Acordo dos Açores, a Inglaterra fornece a Portugal metralhadoras ligeiras Bren m/943, no calibre 7,7 mm, que nos anos 50 serão entregues a unidades de engenharia, artilharia e administração e serão retiradas da primeira linha nos anos 60, com a chegada do cartucho NATO. Ainda no ano de 1943, no âmbito de contrapartidas da venda de volfrâmio à Alemanha, este país fornece-nos a Borsig MG 34, no calibre 7,9 mm, que será denominada por MG 34 Borsig m/944, que será entregue a unidades de metrópole.
A partir dos anos 60, Portugal pretende adquirir uma metralhadora que use o cartucho NATO, após a adopção da HK G3, como espingarda do exército, já no calibre 7,62 mm NATO. A escolha recaiu na MG42/59, criada pela Alemanha, no calibre 7,62 mm NATO, que terá a denominação de MG42 m/962.
A MG 42, no calibre, 7,9 mm foi fabricada pela Mauser e é considerada a melhor metralhadora ligeira da II Guerra Mundial, sendo conhecida entre os aliados pelo seu som inconfundível, como a “ceifadora de Hitler”. Após a guerra e quando se formou o Exército da RFA, em 1958, a MG42, foi recuperada e convertida para o calibre 7,62mm NATO, tornando-se o modelo MG42/59, conhecido como a MG1 e MG2, consoante são armas novas ou feitas de adaptações, fabricado pela Rheinmetall.
A HK teve bastante sucesso com o lançamento da espingarda automática HK G3 e a partir dos mesmos componentes e do desenho de 1961, lançou diversas metralhadoras ligeiras a HK 11, em 1961, a HK 13, em 1963 e a HK 21, em 1965. O Exército Português, com o rebentar da Guerra Colonial, interessou-se por uma ML, que fosse mais leve que a MG42, para ser atribuída às secções de atiradores e a HK 21, foi a escolhida, por ser uma arma que usava 40% dos elementos que compunham a HK G3, com a qual os militares já se identificavam e ainda pela possibilidade, dada pelos alemães, de a pudermos fabricar em Braço de Prata (INDEP), sob licença, a partir de 1967. Assim, em 1968, a tropa portuguesa começou a receber esta metralhadora que, diga-se de passagem, nunca foi uma arma muito bem acolhida.
Metralhadora ligeira MG 42

Características da arma

TIPO: Metralhadora ligeira
PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
CALIBRE: 7,62 mm NATO
DATA DE FABRICO: Originalmente em 1942, alterações e modelo novo em 1959
ALCANCE MÁXIMO: 4 000 m
ALCANCE EFICAZ: 3 500 m
ALCANCE PRÁTICO: 1 200 m
PESO: 11, 5 Kg, sem fitas
COMPRIMENTO: 1, 225 m
MUNIÇÃO: 7,62 X51 mm
VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 820 m/s
ALIMENTAÇÃO: Por fita carregadora
SEGURANÇA: Imobilização do armador e manobrador
FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, funcionamento por acção de gases, com curto recuo do cano
CADÊNCIA DE TIRO: 1 200 t/m
Metralhadora Ligeira HK 21

Características da arma

TIPO: Metralhadora ligeira
PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
CALIBRE: 7,62 mm NATO
DATA DE FABRICO: 1965
ALCANCE MÁXIMO: 1 200 m
PESO: 7, 92 Kg, sem munições
COMPRIMENTO: 1, 021 m
MUNIÇÃO: 7,62 X 51 mm
VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 800 m/s
ALIMENTAÇÃO: Por fita carregadora ou por carregador metálico para 20 munições
SEGURANÇA: Através da imobilização do armador
FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, actuando por acção dos gases.
CADÊNCIA DE TIRO: 800 t/m

1.5. 2 FORÇAS DO PAIGC

As forças do PAIGC tinham como metralhadoras ligeiras a Degtyarev RPD e a Degtyarev DPM (já menos vista), produzidas originalmente pela antiga URSS.
Metralhadora ligeira Degtyarev DPM

A metralhadora ligeira Dectyarev DPM teve origem no modelo DP (Dectyarev Pechotny/Dectyarev de Infantaria), desenhada na URSS depois de 1917 e que veio a ser adoptada como ML do Exército Vermelho, em 1927. Em 1943-44 veio a ser modernizada, passando a ser o modelo DPM (modernizirovannyj). Após o fim da II Guerra Mundial irá ser substituída, primeiro pela PK-46 e depois pela RPD.

Características desta arma

TIPO: Metralhadora ligeira
PAÍS DE ORIGEM: URSS
CALIBRE: 7,62 mm R
DATA DE FABRICO: 1944
ALCANCE MÁXIMO:
PESO: 11, 3 Kg com o carregador cheio
COMPRIMENTO: 1 266 mm
MUNIÇÃO: 7,62X54 mm
VELOCIDADE INICIALDO PROJÉCTIL:
ALIMENTAÇÃO – Carregador circular colocado no topo, com 47 projécteis
SEGURANÇA:
FUNCIONAMENTO: Arma automática, actuando por gases, com selector de tiro.
CADÊNCIA DE TIRO: 600 t/m


Metralhadora Ligeira Degtyarev RPD

A metralhadora ligeira Degtyarev RPD (Ruchnoy Pulemet Degtyarev) foi desenhada a partir de meados dos anos 40, e foi adoptada em 1953 pelo Exército Vermelho, até ser substituída pela Kalashnikov RPK, o que parece ter sido uma má opção, segundo diversos autores. A arma trabalhava unicamente na posição de fogo automático.

Características da arma

TIPO: Metralhadora ligeira
PAÍS DE ORIGEM: URSS e fabricada também na China
CALIBRE: 7,62 mm M43
DATA DE FABRICO: 1953
ALCANCE MÁXIMO:
PESO: 7, 4 Kg sem munições
COMPRIMENTO: 1 037 mm
MUNIÇÃO: 7,62X39 mm
VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 735 m/s
ALIMENTAÇÃO: Tambor com fita no seu interior com 100 projécteis
SEGURANÇA:
FUNCIONAMENTO: Arma automática, actuando por meio de recuperação de gases, fazendo unicamente tiro automático
CADÊNCIA DE TIRO: 650 t/m

1.5.3 OBSERVAÇÕES

A ML MG42/59-m/962, era, seguramente, a melhor metralhadora ligeira no teatro operacional da Guiné sendo, contudo, a mais pesada e só as unidades pára-quedistas as usavam em pleno. Estavam instaladas em muitos aquartelamentos, para defesa imediata, em reparos especiais. O seu senão, para além do peso, era a sua elevada cadência de tiro, que obrigava ao uso de muitas fitas alimentadoras, que elevavam o seu peso.
A HK-21 era a arma de apoio da maioria das unidades combatentes e cumpria bem o seu papel, se tivesse a ser alimentada por fitas de elos desintegráveis, pois com as normais fitas de ligação de arame, tinham problemas na alimentação. Era a única ML que funcionava em automático, na posição de culatra fechada. Tinha a vantagem de operar como a G3, sendo fácil a qualquer elemento operar com arma, caso fosse necessário.
Ambas metralhadoras podiam mudar o cano rapidamente, em caso de sobreaquecimento.
A Degtyarev DPM já se encontrava obsoleta, bem como a sua munição. A RPD, era uma ML bastante leve, embora já não utilizada nos países avançados do bloco soviético, cumpria bem o seu papel de arma de apoio. O problema de só fazer fogo automático não nos parece importante, dado que as ML foram criadas para esse fim. Dada a leveza da munição em relação à das nossas metralhadoras, existia uma maior dispersão de impactos, do que nas nossas armas. A colocação da fita alimentadora, que apresentava um tratamento envernizado para melhor correr e evitar o enferrujamento, enrolada num tambor, que se fixava à arma, era importante para impedir a entrada de sujidade no sistema operativo da mesma.

A munição 7,62x34 mm M43, utilizada nas espingardas automáticas Kalashnikov M47 e AKM, semiautomática Simonov e Metralhadora Ligeira Degtyarev RPD
A munição 7,62x51 mm NATO, utilizada nas espingardas automáticas HK G3 e FN FAL e metralhadoras ligeiras MG42/59 m/62 e HK 21

1.6 OS MORTEIROS 60 mm

1.6.1 FORÇAS PORTUGUESAS

No apoio imediato às tropas portuguesas foi largamente utilizado o morteiro 60 mm, quer na defesa de aquartelamentos, quer nas deslocações, tanto apeadas, como em colunas auto. De facto, face à falta de um lança granadas foguete que se adequasse ao combate na selva, os grupos de combate utilizavam o morteiro 60 mm, retirando o prato base para o tornar mais leve e transportável. Depois, com o desenvolvimento do denominado morteirete, que era composto unicamente pelo tubo e com uma base arredondada e um pouco mais larga, para não se enterrar no chão, contendo uma bandoleira, onde estavam fixadas chapas com as distâncias alcançáveis. Era este o modelo amplamente utilizado.
O morteiro é uma arma de tiro curvo, capaz de bater alvos desenfiados ou em contra-encosta.
O morteiro 60 mm mais utilizado era o M2 m/952, de origem norte americana.


O morteiro 60 mm M2 m/952

Características desta arma:

TIPO: morteiro ligeiro
ORIGEM: EUA

DATA DE FABRICO: II GM
PESO: 17 kg
COMPRIMENTO: 720 mm
ALCANCE MÁXIMO (para carga explosiva): 1815 m
CADÊNCIA DE TIRO: 18 g p/m
GRANADAS: explosivas, de iluminação, de fumos e de exercício
COMPOSIÇÃO GERAL DA ARMA: cano, suporte, prato base e aparelho de pontaria
FUNCIONAMENTO: arma de ante-carga, culatra roscada, de alma lisa e percutor fixo. O lançamento é proporcionado pelos gases que se formam na explosão da carga propulsora e suplementares (se for necessário), quando a granada é percutida, após percorrer o cano por inércia.
O morteirete atribuído às forças armadas portuguesa foi desenvolvido pela FBP, com conceito de origem francesa (Hotchkiss-Brandt 60 mm commando mortar), como sendo o modelo FBP m/68.

Morteirete 60 mm FBP m/68

Características desta arma:

TIPO: morteiro comando
PESO: 5 kg
COMPRIMENTO: 650 mm
ALCANCE MÁXIMO (para carga explosiva): 1070 m
CADÊNCIA DE TIRO: 30 g p/m
GRANADAS: explosivas, iluminantes e de fumos
COMPOSIÇÃO GERAL DA ARMA: cano, bandoleira graduada, polinómetro, tampa de boca em borracha.
FUNCIONAMENTO: arma de ante-carga, de alma lisa e percutor fixo, sendo que o lançamento da granada é efectuado por acção dos gases que se formam, aquando da percussão da carga propulsora, depois da granada atingir o percutor por inércia.

1.6.2 FORÇAS DO PAIGC

O PAIGC usava morteiros 60 mm de diversas procedências, nomeadamente da antiga URSS, da China (T-31 e T-63) e de outros países do Leste Europeu.

1.6.3 OBSERVAÇÕES

Deve ser salientado o nosso morteirete, pelo seu peso, pela facilidade com que se fazia fogo, aliado a um jeito natural que o soldado português tem para este tipo de armas, que já vem dos tempos da I Guerra Mundial, segundo rezam algumas crónicas da época.
Face à base arredondada, pudemos testemunhar o feito que um soldado nativo, de forte compleição física, numa situação de contacto com guerrilheiros do PAIGC (Operação “Alma Forte”, no dia 11 de Março de 1972, pelas 18h00, 2 grupos de combate da C.CAÇ 3491 – DulombI) em que fomos emboscados pelo IN, junto a Paiai Lemenei, foi de grande influência a intervenção do soldado Manga Camará, que colocando o morteirete à barriga e aguentando o forte coice da arma, lançou algumas granadas que vieram a atingir o IN, pondo-o em retirada com diversas baixas.

1.7 OS LANÇA GRANADAS FOGUETE (LGF)

1.7.1 FORÇAS PORTUGUESAS

O lança granadas foguete (LGF) é, como se sabe, uma arma essencialmente anti-carro, e será por esse facto que Portugal não terá procurado para a guerra que suportava nas colónias um LGF que se adaptasse às necessidades que as tropas sentiam naqueles específicos terrenos de ter uma arma deste tipo, mas mais manejável que as que estavam distribuídas. Os LGF (vulgarmente conhecidos como Bazukas, do inglês Bazooka) existiam em Portugal nos modelos de 6 cm M/955 e 8,9 cm M/952, foram largamente utilizados durante a guerra colonial, em especial o último modelo, embora, na maior parte das vezes, unicamente utilizando granadas anti-carro (Heat – High Explosive Anti Tank), de pouca eficácia anti-pessoal, compensando com o poder contundente do troar da sua explosão.
Para concorrer com os RPG do IN, os portugueses desenvolveram em Angola um lança “rockets” originalmente concebido para tiro ar-solo (utilizado nos aviões T-6), que foi também muito utilizado na Guiné, em especial pelas forças pára-quedistas, o SNEB de 37 mm, de origem francesa, bastante mais leve e manejável que a bazuca, a que alguns chamavam de “roquetim”, facilmente reconhecível pela manga do tubo furada.

Grupo de Paraquedistas, algures na Guine, vendo-se o elemento da frente transportando o LGF SNEB, de 37 mm. Foto obtida do blogue do BCP 12, com a devida venia.

No entanto, o LGF mais utilizado como arma de apoio dos grupos de combate foi o LGF 8,9 cm M20 e M20A1, de origem EUA, conhecidos pela “bazooka” e “Super bazooka”, respectivamente. Algumas unidades possuíam o LGF Instalaza 8,9 cm, de origem espanhola, muito semelhante à bazuca americana, mas que tinha uma protecção para o atirador.

LGF M20A1 8, 9 cm

Características do LGF M20/M20A1 8,9 cm:

TIPO: Lança granadas foguete
ORIGEM: EUA
ANO DE FABRICO (primeiros modelos): 1942
COMPRIMENTO: 153 cm
PESO: 5,9 Kg
ALCANCE MÁXIMO 150/200 m
VELOCIDADE: 160 m/S
CAPACIDADE: Perfura 280 mm de blindagem
FUNCIONAMENTO: Arma de retro-carga, de disparo eléctrico, movendo-se a granada por acção de foguete propulsor.

1.7.2 FORÇAS DO PAIGC

Os guerrilheiros do PAIGC possuíam como lança granadas foguete o RPG-2 e o RPG-7, de origem soviética, que usavam com grande profusão. Outro LGF que foi utilizado era o P-27 Pancerovka, com origem na então Checoslováquia, mas já era menos visto nos anos em estudo.


RPG-2

Características do RPG-2:

TIPO: Lança Granadas Foguete (RPG - Ruchnoy Protivotankovyi Granatomyot)
ORIGEM: URSS
ANO DE ENTRADA AO SERVIÇO: 1949
CALIBRE: 40 mm (diâmetro do tubo), 82 mm (diâmetro da cabeça explosiva da granada)
PESO: 2,83 Kg, 4,67 Kg com granada introduzida
COMPRIMENTO: 650 mm
VELOCIDADE:
ALCANCE EFECTIVO: 100 a 150 m
ALCANCE MÁXIMO: 200/300 m
CAPACIDADE: Perfura 200 mm de blindagem
FUNCIONAMENTO: Arma de carregar pela frente, usando o tipo de granada HEAT, propulsionada por foguete acoplado ao corpo da granada, de percussão mecânica, com seis aletas estabilizadoras que se soltam aquando da saída da granada.
RPG-7

Características do RPG-7:

TIPO: Lança granadas foguete (RPG – Ruchnoy Protivotankovyi Granatomyot)
ORIGEM: URSS
DATA DE ENTRADA AO SERVIÇO: 1961
CALIBRE: 40 mm (diâmetro do tubo) e entre 70 a 105 mm (cabeça explosiva da granada)
PESO: 6, 3 Kg, 8, 5 Kg com granada introduzida
COMPRIMENTO: 650 mm
VELOCIDADE: Primeiramente a granada é lançada a cerca de 120 m/s, mas depois com a entrada em funcionamento do motor próprio acelera até aos 240 m/s
ALCANCE EFECTIVO: 500 m
ALCANCE MÁXIMO: 900 m
CAPACIDADE: Perfura 260 mm de blindagem
FUNCIONAMENTO: Arma de carregar pela frente, podendo usar diversos tipos de granadas, embora a mais utilizada fosse a HEAT, propulsionadas por foguete acoplado ao corpo da granada, de percussão mecânica, com estabilizadores articulados. Quando se dá a propulsão e a saída da granada do tubo e a cerca de 10/ 20 m depois, inicia-se uma aceleração, através do motor da propulsão, com a abertura dos estabilizadores que conferem uma melhor direcção ao projéctil.

Granada de RPG-7

1.7.3 OBSERVAÇÕES

Os RPG são armas desenvolvidas pela antiga URSS, com origem nos famosos “Panzerfaust” alemães da II Guerra Mundial. São armas bastante portáteis, relativamente baratas e de fácil manejo. Como todos os LGF tinha de haver cuidado com o cone posterior de fogo (20 a 30 m), mas eram mais fáceis de manobrar no terreno, em que nos defrontávamos, do que os nossos LGF. No caso do RPG-2 o atirador transportava, normalmente, 1 gr. na arma e 3 numa bolsa especial usada às costas, tendo ainda um municiador com mais duas granadas. No caso do RPG-7, o atirador podia transportar uma gr. na arma e mais duas numa bolsa adequada que levava às costas e um municiador com mais 3 granadas também em bolsa, que levava às costas.
No caso do nosso LGF não havia bolsas próprias e, normalmente, o atirador transportava uma gr. na arma e levava mais duas e o seu municiador outras duas ou quatro, dado tratarem-se de granadas pesadas.
O IN utilizava com grande à vontade este tipo de LGF, usando-o em todas as actividades operacionais fossem elas contra aquartelamentos, contra viaturas ou em emboscadas sobre as nossas tropas. O RPG-2 não era uma arma muito eficiente, mas o RPG-7 já era um LGF de muita qualidade que perdurou no tempo e foi utilizado em muitas frentes e guerras. As granadas de RPG-2 explodiam por contacto, enquanto as de RPG-7, para além de explodirem por contacto, também explodiam ao fim de 4,5 segundos, caso não encontrassem um obstáculo, o que produzia estilhaços em chuva sobre o inimigo. Segundo um guerrilheiro capturado pela minha companhia, a dificuldade em apreendermos RPG-7, ao contrário dos RPG-2, era devido a que estes eram entregues aos melhores combatentes, sendo também em menor quantidade.
No meu caso pessoal, ao fim de alguns meses de mato, decidi que o meu grupo de combate só levasse a bazuca 8,9 cm na escolta a colunas, pois o seu peso, o das granadas e a dificuldade de manobrá-la (preocupações com o cone de fogo que produzia), não a tornavam apetecível para a progressão no mato. Lembro, contudo, de em vez de usarmos as granadas HEAT habituais para o LGF, usávamos umas granadas Energa (belgas), com ponta em mola, que originavam um coice na arma, praticamente impeditivo de atirar ao ombro. O disparo era efectuado à anca. Assim, a bazuca era mais utilizada na defesa do aquartelamento.
Neste tipo de armamento é que as forças portuguesas ficavam a perder. Logo no comprimento e envergadura dos LGF a vantagem era nítida do PAIGC. Também o peso das granadas não ajudava e o efeito das mesmas não era tão efectivo como um tiro de dilagrama.

Cone de fogo produzido por um LGF, aquando do disparo de uma granada


Estilhaços de granadas de RPG-2 (à esquerda) e de RPG-7 (à direita), encontrados após uma das flagelações do PAIGC ao quartel do Dulombi, em 1972.

1. 8 AS GRANADAS DE MÃO

1.8.1 FORÇAS PORTUGUESAS

As tropas portuguesas usavam, essencialmente, dois tipos de granadas de mão: as ofensivas e as defensivas. Eram também usuais as granadas de fumo (cores vivas) para assinalar locais no mato para aterragem urgente de hélios e para identificar a zona onde se encontravam as nossas forças, quando se solicitava ataque aéreo e muito raramente se utilizavam as incendiárias.
As granadas ofensivas eram de fraco raio de acção, essencialmente actuando por sopro e choque, podendo ser empregues quando as tropas que as lançavam estão a descoberto, dado que os seus poucos estilhaços, normalmente, não tinham alcances superiores a 15 m.
As granadas defensivas eram de um raio de acção superior a 100 m, embora o raio de acção de eficácia fosse de 15/20 m, actuando por meio de fragmentação em estilhaços do seu próprio corpo e da espiral existente no seu interior. Destinam-se a ser empregues quando as forças que as lançam estão abrigadas, protegidas da acção dos efeitos da própria granada.
Outra utilização para as granadas defensivas era o seu arremesso, através de um dispositivo colocado na G3, com recurso à utilização de uma munição especial, para distâncias superiores aos atingidos pelo lançamento manual. A este conjunto chamava-se dilagrama.

Características da Granada Ofensiva M/62:

TIPO: Arma de arremesso, destinada ao combate próximo, podendo bater ângulos mortos
PESO: 310 g
CARGA: 190 g TNT
RAIO DE ACÇÂO: 10 a 15 m
ALCANCE: Dependente da potência do braço do lançador
ESPOLETA: De tempos, de percussão prévia automática. Duração de combustão do misto retardador – 4 a 5 segundos.
FUNCIONAMENTO: Após ser retirada a cavilha de segurança, puxada pela argola existente na cabeça da granada, largando em seguida a alavanca de segurança, o percutor acciona a combustão do misto retardador e posteriormente atingindo o detonador, este acciona a carga ignidora e em seguida a carga base, dando-se a explosão.


Granada defensiva M26A1 m/963

Características da Granada Defensiva M/963 (M26 ou M26A1):

TIPO: Arma de arremesso, destinada ao combate próximo, podendo bater ângulos mortos
ORIGEM: EUA
PESO: 455 g
CARGA: 165 g de Composição B
RAIO DE ACÇÂO EFICAZ: 20/30 m
RAIO DE ACÇÂO PERIGOSO: 185 m
ALCANCE: Dependente da potência do braço do lançador
ESPOLETA: De tempos, de percussão prévia automática. Duração de combustão do misto retardador – 4 a 5 segundos
FRAGMENTAÇÃO: Através de uma espiral em aço em forma de barril, existente no interior do corpo. Mola fragmentada
FUNCIONAMENTO: Após ser retirada a cavilha de segurança, puxada pela argola existente na cabeça da granada, largando em seguida a alavanca de segurança, o percutor acciona a combustão do misto retardador e posteriormente atingindo o detonador, este acciona a carga ignidora e em seguida a carga base, dando-se a explosão.

O Dilagrama

O Dilagrama era um dispositivo que, conjuntamente com a granada de mão defensiva M/63, ao qual era fixado, aplicado na espingarda automática G3, permitia-nos obter alcances superiores aos conseguidos pelo arremesso manual da granada, reduzindo os riscos para as nossas tropas na sua utilização. O Dilagrama permitia bater ângulos mortos, sendo possível o seu emprego contra elementos IN abrigados.

O Dilagrama era constituído por:
Um adaptador da granada;
Um tubo em forma cilíndrica;
Uma empenagem;
A granada defensiva M/63 e
Um cartucho especial propulsor.

Retirada a cavilha da granada, a alavanca de segurança ficava presa pelo retentor. Quando se premia o gatilho da arma e o cartucho era percutido, a acção de gases que se seguia impulsionava o conjunto, lançando-o pelo ar e, pela acção da inércia, o grampo de armar recuava, partindo o retentor, soltando-se, então, a alavanca de segurança da granada, iniciando-se a combustão do misto retardador e consequentemente a explosão, com fragmentação de todo o conjunto.
Normalmente, a granada atirada por este dispositivo, rebentava acima do solo. Num disparo a 45º, verificávamos que, efectuando uma contagem rápida de 1 a 15, o rebentamento se dava, por norma, nesta altura.
O disparo deste dispositivo dava um forte coice, em especial no dedo que dava ao gatilho, por isso, os soldados eram instruídos para efectuarem o disparo como se dedilhassem uma guitarra (só usando a ponta do dedo) e dispararem a arma apoiada no chão, prendendo-se com um dos pés a bandoleira e colocando a arma no ângulo pretendido. No entanto, em acção, a maior parte dos atiradores que me acompanhavam e que utilizavam o dilagrama, efectuaram os disparos do mesmo ao ombro, sem quaisquer problemas.


Dilagrama M26A1

Características desta arma:

TIPO: Dispositivo de lançamento de granada defensiva através de uma espingarda
ORIGEM: EUA
PESO: 455 g
EXPLOSIVO: Composição B
FRAGMENTAÇÂO: Espiral de aço em forma de barril no interior da granada, bem como o restante conjunto, fabricado em metal.
CAPACIDADE: Acção efectiva nos 15 m em redor do local da explosão.
ALCANCE MÀXIMO: 160 m

Durante o ano de 1973, surgiu outro tipo de dispositivo (FRG-RFL 40BT, de origem belga), em que a granada não era acoplada, mas fazia parte integrante do conjunto (tipo bola), no calibre de 40 mm, rebentando por impacto e, dado ser um conjunto mais leve que o conjunto anterior (355 g), o seu alcance era sensivelmente o dobro (350 m), lançando cerca de 300 fragmentos, em 30 m envolta do local da explosão.

1.8.2 FORÇAS DO PAIGC

Os guerrilheiros do PAIGC utilizavam, normalmente, as granadas defensivas chinesas de cabo de madeira (alguma semelhança com as dos alemães utilizadas na 2ª Guerra Mundial) e as granadas de fragmentação russas RGD5 e F1, também fabricadas na China.

Granadas defensivas F 1

Características da granada defensiva F 1:

TIPO: Granada de fragmentação

ORIGEM: URSS
DATA: II G.M.
PESO: 600 g

EXPLOSIVO: 60 g TNT
FRAGMENTAÇÂO: Pinha em aço
RAIO DE ACÇÂO EFICAZ: Acção efectiva até 20 m do local da explosão
ESPOLETA: De tempo, com temporizador regulado para os 3 a 4 segundos
FUNCIONAMENTO: Semelhante à nossa granada

1.8.3 OBSERVAÇÕES

A nossa granada defensiva, utilizada através do dispositivo denominado dilagrama, era mais útil que as utilizadas manualmente, tendo mais capacidade de causar baixas no IN. Também a M26A1 era uma granada mais moderna, produzindo mais estilhaços do que as do PAIGC, nomeadamente a F1, conhecida pelos russos como Limonka (granada limão) e que já não era fabricada pela URSS, mas era ainda utilizada nos países satélites e nas denominadas guerras de libertação.

Nota do autor: Os apontamentos e fotos para este trabalho foram recolhidos, com a devida vénia, da Wikipédia/Internet; How stuff Works.com; Infantry Weapons of the World, da Brassens, Editor J.L.H. Owen; Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Edição Diário de Notícias; Modern Firearms & Ammunition Encyclopedie; Armamento do Exército Português, Vol. I – Armamento Ligeiro, de António José Telo e Mário Álvares, da Prefácio e Apontamentos e fotos diversas do autor e elementos retirados do seu Trabalho: As Armas de Fogo, seus Componentes, Capacidades e o seu Uso pelas Forças Policiais - Concurso Coordenador Superior da PJ-Maio de 2004.






































segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A INSTALAÇÃO DA CCAÇ 2405 EM DULOMBI


Caros Camaradas


Aconselho os camaradas a ler o Post P1029 do blogue de Luís Graça :blogueforanadaevaotres.blogspot.com, onde, através do Ex-Alf. Mil. Paulo Raposo, se descreve a instalação da 1ª companhia que ocupou o Dulombi - a C.CAÇ 2405/BCAÇ 2852 -Guiné 68-70.

Esta companhia esteve envolvida na Operação "Mabecos Bravios" - a célebre retirada de Madina do Boé - onde, quando atravessavam o Rio Corubalo, se deu o desastre da jangada em que perderam a vida 46 militares, entre os quais 17 elementos da CCAÇ 2405.

A companhia recebeu a ordem de abrir o aquartelamento do Dulombi, em 1970, e esteve instalada primeiramente em tendas, enquanto ia construindo os abrigos, por isso podem deduzir as grandes dificuldades em que viveram. Sorte a nossa que quando recebemos as instalações dos nossos "velhinhos", a CCAÇ 2700, em Março de 1972, estas já eram umas boas instalações, com boas cercas de arame farpado, zona limpa de mato envolta de todo o perímetro, projectores que davam luz ao quartel, fruto do esforço da 2405 e dos melhoramentos efectuados pela 27$00.

O abrigo do capitão da companhia referido no post é concerteza o que se situava no meio da população e que consta da nossa foto do Vol.10., que já não fui utilizado por nós.

Os oficiais desta companhia ficaram conhecidos como os "Baixinhos do Dulombi".

Um abraço a todos

Luís Dias

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A HISTÓRIA DE UM GR. COMB. DA CCAÇ 3547, NO DULOMBI

Caros Camaradas

Tivemos conhecimento que depois da CCAÇ 3491 ter saído do Dulombi/Galomaro, de regresso a casa, a 1ª Compª do BCAÇ 4518/73, saíu também de lá quase de seguida para Galomaro, conforme relato feito pelo Ex-Alf. Joaquim Tinoco, transcrito para este blogue, mas que, já depois do 25 de Abril, um Gr. de Comb. da CCAÇ 3547, "Os reptéis" de Contuboel, foi ali colocada, por pouco mais de um mês. É um pequeno relato que aqui juntamos do Ex-Fur., Manuel Oliveira Pereira, que comandava esse Gr. de Comb., recebido por mail, e que com a devida vénia e autorização reproduzimos.

É espantoso que dois meses depois de sairmos do nosso Dulombi, o quartel se tenha degradado tanto e que tenha ficado na situação relatada. Lembram-se, concerteza, do Rio Fandauol que nos abastecia, da água que tinhamos para os nossos banhos, das razoáveis instalações, de ali ter-mos convivido. uma companhia e dois pelotões de milícias. Pois o nosso camarada reproduz uma realidade, que nos parecia impensável, para quem ali viveu grande parte da comissão de quase 28 meses de Guiné. Quando sairam do Dulombi apenas ficaram as milícias.
Um abraço para esses últimos moicanos que tiveram o "azar" de estarem numas instalações degradadas, que nós estimaramos tanto e o que Cap. Pires nos fez trabalhar para as merecermos e as tornar habitáveis e dignas de gente tão jovem, a milhares quilómetros de casa e das suas famílias.

P.S. A CCAÇ 3547, pertencia ao B.CAÇ 3884, sediado em Bafatá. Aconselho a lerem o Post P1706 do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, sobre a possibilidade deste BCAÇ intervir em favor do MFA, caso as coisas no 25 de Abril, tivessem corrido de modo diferente.

Luís Dias


Caro Luís Dias,

Obrigado pelo teu e-mail.

Mesmo antes de o receber, tinha pensado responder ao teu repto – o encontro.
Na verdade, estive com o meu Grupo em Galomaro e posteriormente no Dulombi. Presumo que as razões que me levaram até lá e, consequentemente o meu Pelotão, se deveram antes de mais, às minhas constantes desavenças com o ditador e prepotente CMD de Batalhão de Galomaro. Explicando melhor:

Estávamos no mês de Março de 1974 – tinhamos acabado de fazer 24 meses de comissão – quando fui destacado (mais uma vez, tinha estado antes em Sare Bacar) com o meu pelotão para reforço do Comando do Batalhão periquito sediado em Galomaro. Chegados lá, encontrei um CMD cretino (não recordo o nome) que fazia gala de dizer que tinha o tirocínio de oficial general, que dava ordens às suas tropas como se estivesse em qualquer unidade, em tempo de paz, na metrópole, que se vestia como qualquer funcionário em gabinete e que tinha um profundo desprezo (não disfarçava) por tudo a que cheirasse a "miliciano". Os seus jogos de guerra (briefings) eram feitos como se de "legos" se tratasse. O homem desconhecia a guerra de guerrilha, a orografia e tipo de terreno e, muito menos a respectiva área de jurisdição (perímetro). As nossas discussões eram frequentes. Insistia em me querer impor a disciplina dos gabinetes de Lisboa (ainda se fosse a do ar condicionado de Bissau) e ainda apelidando-me constantemente de escumalha miliciana. Obviamente que não lhe poupava resposta. Recordo que uma vez lhe chamei idiota – exactamente idiota, quando ele gritava com um dos "seus" alferes para que este (coitado) mandasse calar os cães que uivavam quando ouviam os toques de clarim no içar da bandeira.

Bom, resumindo: por força (talvez) destas disputas, ordenou-me que e, pela experiência acumulada (disse-me que tinha recebido ordens de Bissau), fosse ocupar o Dulombi. Vou para lá por altura da Páscoa.
Chegado lá, deparo-me com 5 soldados brancos que mais pareciam um grupelho de loucos, um pelotão de milícias, umas instalações degradadas, sem água (pelo que vi, foram em tempos excelentes), torres de vigia, ocupadas pelas milícias como se sua casa fosse, sem alimentação quente, tendo por base apenas rações de combate.

Como primeira medida, mandei cortar alguns bidões de forma a formar cilindros (manilhas) para serem enterrados como "POÇOS" à entrada do aquartelamento onde existia uma zona pantanosa. Conseguíamos assim a água necessária para a nossa presença naquele cu de judas. Saímos do Dulombi a meio de Maio. Desconheço se após a nossa saída (viemos todos com excepção da milícia) mais alguém foi para lá. Nesta presença no Dulombi, não tivemos qualquer contacto com o IN.

Tinha entretanto acontecido o 25 de Abril e foi com grande alegria, no meu regresso a Galomaro, que soube, que o prepotente CMD tinha sido levado sob prisão por elementos do MFA.

Um abraço,

Manuel OLIVEIRA PEREIRA

terça-feira, 23 de setembro de 2008

FOTOS DA CCAÇ 3491 GUINÉ 71-74 VOL.13

Despedida do Alf. Vilaça - Cais do Xime - 1973 E-D Alferes:Mourão, Lima, Costa (BART 3873), Vilaça (Regresso à Metrópole) e L.Dias.

Alf. L.Dias junto a um Harvard T-6, em Bambadinca Setembro/Outubro 1973

Oficiais do B.CAÇ 3872, no Navio Angra do Heroísmo, a caminho da Guiné - Dez 1971. Sentados do lado esq e da E p/ D -Alf. Rodrigues do Pel Rec da CCS, Alf Mota (falecido por doença na Guiné)Transmissões da CCS, Alf ? , Alf. Veiga Contabilidade da CCS e o Alf. Oliveira, capelão do batalhão. Sentados do lado Dirt e por ordem, Alf. ?, Alf. Armandino Ribeiro da CCAÇ 3490 (morto em combate na emboscada do Quirafo, em Abril de 72), Alf ?, Alf. Parente da CCAÇ 3491 (meio encoberto), Alf. L.Dias da CCAÇ 3491 (a fumar!!!!), Alf. ? e Alf ? , ao que se julga ambos da CCAÇ3490.
O Djubi Samba Djuma-Dulombi- Jan 74
O cartão do cmdt e tripulação do navio que nos levou para a Guiné a desejar-nos um bom Natal e felicidades na comissão- Dez 71.

A Guia de Desembaraço da C.CAÇ 3491, com as assinaturas principais das principais repartições e serviços de Bissau. Março de 1974.
Ei-los finalmente! A chegada dos piras ao Dulombi-A ponte sobre o R.Fandauol, em 8 de Fevereiro de 1974. O regresso estava próximo.


sábado, 20 de setembro de 2008

FOTOS DA CCAÇ 3491 GUINÉ 71-74 VOL.12

A Binta, bajuda de Galomaro
Alf. Dias a tomar banho no R. Fandauol que abastecia o Dulombi e com um dos morteiros 81mm do aquartelamento.
Alf. Dias, Fur. E.Santo, com a bazooka 89 mm e a nossa berliet e o Alf. Dias em dia festivo no Dulombi - 1972
O cmdt do Pel. Mil de Campata-Semba Embaló e o Alf. L. Dias - Out 1973.
Encontro de futebol entre os solteiros e os casados. Em cima e da E p/D: Silva, 1º Sarg. Gama, Vale, Pereira, Chaves, 2º Sarg. Chanca, Cap. Pires, Fur. gonçalves, Fernandes e Romeu. Em baixo e da E p/D: Sousa, Teixeira, Galrão, Nogueira, Costa, Teixeira II, Alf. Dias e Fur. E.Santo. Dulombi, 3 de Fev de 1974.
Comissão de Recepção aos Piras da 1ª CCAÇ do BCAÇ 4518/73. Dulombi, em 8 de Fev. de 1974