segunda-feira, 26 de abril de 2010

NO DIA 25 DE ABRIL - 36 ANOS APÓS A NOSSA CHEGADA

No dia em que se comemora 36 anos da Revolução do 25 de Abril, lembrei-me de colocar no blogue uns "poemas" elaborados com base na obra do nosso poeta maior, Luís de Camões e feitos em finais de 1972, inícios de 1973, no Dulombi, demonstrativos daquilo que sentíamos e do que passávamos.

Luís Dias


PERDOA-ME HOMEM GRANDE
Perdoa-me Homem Grande!
Por ter tido a prosápia
De em teus eloquentes e maravilhosos versos pegar
E num arrojo
Confuso e hilariante, modificar
com palavras erróneas e secantes
A profundidade e objectividade
Do teu esplendoroso criar
Seja no entanto sincero; que de bom
Mais não espero
Do que sentir vindo do além
Teu perdão
Perdão por esta inocente audácia
Em retractar
Em teus versos de então
O presente aqui vivido
Onde os sonhos
Imensos de realidades, mas também bisonhos,
Foram inesperadamente interrompidos
Diga-se em abono da verdade
que também eu canto uma epopeia
Porém esta mais difusa e matreira
Mas que no seu albergar
Matou; talvez sem reparar
Muita gente válida e forte
Tu cantaste os gloriosos feitos
Eu agora vejo-os desesperados
Neste lugar de aclimatado quente
Em mágoas e pranto entorpecente
Olhando a morte; veneno destas terras
Bem mais estranhas
Que nossas planícies e serras
E que num justo ódio
Simples e feroz
Pelo abandono de antigos
Pela história já idos
Se vingam em nós
Que somos restos de imagens não esquecidas
Culpas de colonialismo já sem voz
Cantaste a nobreza da causa
A pureza da fé e da confiança
A luta de descobrir
O esforço de enaltecer
Os caminhos inseguros do mar
As sereias de belos encantos
As terras e mares
Que nos foram dadas a conquistar
Eu falo da amargura, da saudade, da perdida esperança
Da sede e da fome
Dos gestos cansados,o percorrer e o obedecer
Com os olhos desenganados de perigos tantos
O nosso lamentar
Perdoa-me Homem Grande mais uma vez
Pois serei como tu
Talvez
Um pobre a morrer perdido nesta imensidão
Que poderá restar!
Se já nem os teus poemas
Alegram esta minha solidão
É este triste infortúnio
De quem no fundo
Deste ingrato e incipiente mundo
Tinha tanto para desejar
XXX
OS DULOMBIANOS
I
As cartas e os valores declarados
Que da Ocidental mata Dulombiana
Por trilhos sempre muito empoeirados
Treparam aquém da Djalon montanha
Em perigos e sacrifícios tramados
Mais do que permitia a força humana
entre gente nova levantaram
Muitas tabancas que tanto súor lhes custaram
II
E também as memórias desastrosas
Daquelas gentes que foram lutando
Pela fé, o Império e as terras fabulosas
Que do Corubalo a Padada andaram queimando
E aqueles que por fugas valorosas
Se vão da lei da tropa libertando
-Cantando aldrabarei por toda a parte
Se a tanto me expuser na comissão e arte
III
Cessem do "pézudo" e do "paradas picando"
As grossas asneiras que fizeram
Calem-se os de Bissau: ar condicionado andando
As bocas e bacoradas que deram
Que eu canto o peito ilustre Dulombiano
A quem o "turra" e a sorte obedeceram
Cesse tudo o que nesta Guiné se canta
Que o valor do Dulombi mais alto s´alevanta
x X x
GUINÉ MINHA SENIL
- x-
Guiné minha senil donde saíste
Com medo desta vida indecente
Repousa lá no inferno até sempre
Para que vivo saia eu desta chatisse
-
Se lá no momento sério para onde seguiste
Memória desta vida te atormente
Não te esqueça, esta sorte decadente
Tal qual pão duro que aqui viste
-
E se topares que pode aborrecer-te
Alguma coisa no tipo que te findou
Das mágoas de tédio de ter-te
-
Roga a Zeus, que te levou
Que tão cedo não me leve a ver-te
Fica lá na "madre que te parió"
x X x
ESTA TRISTE MALTA SEMPRE CHATEADA
-x-
Esta triste malta sempre chateada
No mato com falta de água e comodidade
Enquanto viver esta "trindade"
Isto continuará a mesma "chachada"
-
Só à granada e à rajada
Erguendo a voz das verdades
Lutando contra estas "santidades"
Se acabará com os "tachos" desta cambada
-
Gente pobre que riquezas nunca viu
Por daninhas almas sempre saqueadas
Enchendo eles os bolsos fundos como um rio
-
Por isso andamos nós aqui aos tiros e morteiradas
Rações de combate comendo dias a fio
Sem poder dar descanso às pernas mal tratadas
x X x
ESTE CALOR QUE NOS ABRASA SEM SE VER
-x-
Este calor que nos abrasa sem se ver,
Que nos corrói o corpo e a mente;
É um tratamento muito a quente;
Para quem já trabalha para aquecer
-
É o combater mais do que querer,
É o destruir desta jovem gente;
É o estagnar, afogando-nos lentamente;
É um pensar que se ganha estando a perder
-
É o querer viver sem falsidade
É servir a quem serve de dominador
É saber perdida a liberdade
-
Como continuar assim sem ardor
Nos corações humanos, a igualdade
Se tão penosa e rouca é esta dor
x X x

Sem comentários: