sexta-feira, 24 de abril de 2009

O NOSSO REGRESSO E O 25 DE ABRIL 35 ANOS DEPOIS

Estavas tu bom português posto em sossego.....quando foste enviado para combater numa guerra!

"PARA QUÊ SOLDADO ?"

Choras!
Perdido na imensidão deste mato
Sentinela esquecida na terra
Soldado estou em ti
Que perdes juventude com um sorriso nos lábios
Porquê tanta demora?
Anos de temor insensato
A pensar, obstinadamente, na guerra
Liberdade deitada fora!

Porquê morrer aqui?
Ficarão oito séculos de história com nexo?
Sentes-te maltratado, maleável
Com muito fumo atirado nos olhos
Sempre triste e abatido
Vives infeliz, mesmo contigo
O teu esforço é insuperável
Será que faz sentido?

Porque te mata o inimigo?
Porque luta ele também?
Se o ganho não é teu
E a sorte já está lançada
Tens a garganta seca
Viras o cantil e …nada!

Deixaste a tua gente
O teu campo, a tua cidade
O suor que gastas não é para o teu pão
Se derramas aqui o sangue
Se perdes a tua mocidade
Eles esquecem, porque não há razão!

Nesta constante de morte certa
Abre os olhos e usa a arma sempre levantada
Sente o perigo à tua volta
Inquieta-te! Acorda! Ergue-te!
A pátria que te espera é uma vastidão deserta
Que necessita de ser abanada

Dulombi, 5 de Março de 1973

Luís Dias


«Trova do Vento que Passa» (Extractos)

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoa
sai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

"As mãos"

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas
mas de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Do "O Canto e as Armas" 1967

Manuel Alegre

Regressámos a 4 de Abril de 1974 e, uns dias depois, o amanhecer da nossa esperança - o Dia 25 de Abril. O Movimento das Forças Armadas, que iniciara as suas reuniões na Guiné, libertava todo um povo, toda a nação e punha os nossos corações em alvoroço, dando um novo sentido às nossas vidas. A paz estava a chegar. Não mais mães e meninas de olhos tristes, a chorar. "Desta vez o soldadinho vai mesmo de África chegar".

"Maré Alta"

Aprende a nadar, companheiro
aprende a nadar, companheiro
Que a maré se vai levantar
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
Maré alta
Maré alta
Maré alta

Sérgio Godinho
Salgueiro Maia, um dos Capitães de Abril (Ex-Cmdt da CCAV 3420 - Guiné 71-73)



1 comentário:

Juvenal Amado disse...

Camaradas do Dulombi em especial Dias
Sabe bem revisitar este blog, que o Dias vai mantendo actualizado.
É muito importante a história operacional da comp do Dulombi, que se funde tantas vezes com a de Galomaro.
O que nos une é muito mais forte que o que nos possa separar.
O 25 de Abril é uma data que fica bem neste espaço independentemente das opções politicas de cada um.
Gostei e gosto deste espaço, que está bem e se recomenda.

Um abraço para todos
Juvenal Amado