quarta-feira, 29 de abril de 2009

ALMOÇO-CONVÍVIO DOS NOSSOS "PIRAS" e da CCS/BCAÇ3872

Camaradas

A 1ª Companhia do Batalhão de Caçadores 4518/73, que nos substituiu no Dulombi/Galomaro, a partir de 8 de Março de 1974, vai organizar o seu Almoço-Convívio, no próximo Domingo, dia 3 de Maio, na Barragem do Castelo de Bode - Tomar.
A organização está a cargo dos Ex-Alf.Milº Matos e Tinoco.

Este vosso amigo foi convidado para estar presente - o que seria uma honra - mas, na data indicada, estarei no Algarve com a minha família.

Assim, aproveito a oportunidade para desejar a todos os elementos daquela companhia e aos seus familiares um bom e são repasto e que tenham muita saúde e possam continuar a conviver e a manter a sã amizade que, certamente, os une, por muitos anos.

Um grande Jametum

LD

A CCS (Galomaro) do nosso Batalhão (BCAÇ 3872), também organiza um Almoço-Convívio no Cartaxo, no próximo Domingo, dia 3 de Maio.

O responsável pelo evento é o Narciso - Telemóvel 917349139.

Também aos elementos da CCS do nosso Batalhão, com quem convivemos muito de perto, quando a maior parte da companhia foi transferida para Galomaro, em 9 de Março de 73, desejamos um óptimo convívio e expressamos os votos de muita saúde e felicidades para todos os seus elementos e respectivas famílias.

Um abraço

LD


sexta-feira, 24 de abril de 2009

O NOSSO REGRESSO E O 25 DE ABRIL 35 ANOS DEPOIS

Estavas tu bom português posto em sossego.....quando foste enviado para combater numa guerra!

"PARA QUÊ SOLDADO ?"

Choras!
Perdido na imensidão deste mato
Sentinela esquecida na terra
Soldado estou em ti
Que perdes juventude com um sorriso nos lábios
Porquê tanta demora?
Anos de temor insensato
A pensar, obstinadamente, na guerra
Liberdade deitada fora!

Porquê morrer aqui?
Ficarão oito séculos de história com nexo?
Sentes-te maltratado, maleável
Com muito fumo atirado nos olhos
Sempre triste e abatido
Vives infeliz, mesmo contigo
O teu esforço é insuperável
Será que faz sentido?

Porque te mata o inimigo?
Porque luta ele também?
Se o ganho não é teu
E a sorte já está lançada
Tens a garganta seca
Viras o cantil e …nada!

Deixaste a tua gente
O teu campo, a tua cidade
O suor que gastas não é para o teu pão
Se derramas aqui o sangue
Se perdes a tua mocidade
Eles esquecem, porque não há razão!

Nesta constante de morte certa
Abre os olhos e usa a arma sempre levantada
Sente o perigo à tua volta
Inquieta-te! Acorda! Ergue-te!
A pátria que te espera é uma vastidão deserta
Que necessita de ser abanada

Dulombi, 5 de Março de 1973

Luís Dias


«Trova do Vento que Passa» (Extractos)

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoa
sai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

"As mãos"

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas
mas de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Do "O Canto e as Armas" 1967

Manuel Alegre

Regressámos a 4 de Abril de 1974 e, uns dias depois, o amanhecer da nossa esperança - o Dia 25 de Abril. O Movimento das Forças Armadas, que iniciara as suas reuniões na Guiné, libertava todo um povo, toda a nação e punha os nossos corações em alvoroço, dando um novo sentido às nossas vidas. A paz estava a chegar. Não mais mães e meninas de olhos tristes, a chorar. "Desta vez o soldadinho vai mesmo de África chegar".

"Maré Alta"

Aprende a nadar, companheiro
aprende a nadar, companheiro
Que a maré se vai levantar
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
Maré alta
Maré alta
Maré alta

Sérgio Godinho
Salgueiro Maia, um dos Capitães de Abril (Ex-Cmdt da CCAV 3420 - Guiné 71-73)



sábado, 18 de abril de 2009

GRANDE ALMOÇO-CONVÍVIO DA C.CAÇ 3491 - MAIO DE 2009





ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO DA C.CAÇ 3491 “GUINÉ 71-74” MAIO DE 2009


Caro Amigo e Camarada de Guerra

É com enorme prazer e alegria que vimos convidar-te para mais um Almoço-Convívio entre os elementos da Companhia de Caçadores 3491.

Lembramos que neste ano comemoramos os 35 anos da chegada ao nosso país, depois de cumpridos 27 meses e meio de Guiné (4 de Abril de 1974) e vamos, com certeza, recordar aqueles autênticos “campos de férias” (Dulombi, Galomaro, Paiai Lemenei, Rio Corubalo, Vendu Cantoro, Vendu Columbai, Bangacia, Samba Árabe, Campata, Rio Mondajane, Padada, Jifim, Cansamba, Umaro Cossé, Samba Cumbera, Mali Bula, Dulô Gengele, Pate Gengele, Sincha Bucô, R.Canhanque, Sangue Cabonga, Sarrancho, Deba, etc….) e também a imensa camaradagem e sincera amizade que nos uniu e une. Ainda, relembrar os camaradas que já partiram e que nos deixaram uma infinita saudade.

Caso saibas de algum camarada que, por qualquer motivo, não tenha ainda participado nos nossos encontros anuais, envia-lhe o convite ou fala-lhe deste encontro. O convívio é ainda aberto a camaradas do Batalhão ou que tenham estado na Guiné e que queiram participar desta reunião, bem assim, como é hábito, às nossas famílias.

O Almoço-Convívio terá lugar no próximo dia 16 de Maio (Sábado), a partir das 10H00 da manhã, em São Martinho de Antas, Concelho de Sabrosa, Vila Real.

A Concentração efectuar-se-á no Largo do Eiró, no centro de S. Martinho. Às 11H00 faremos uma visita à casa e ao busto do escritor filho da terra, Miguel Torga. Às 11H30, será celebrada uma missa de Acção de Graças, na Capela de Nossa Senhora da Azinheira e às 12H00 partiremos para o Restaurante Constantino, onde será servido o almoço.

O almoço será antecedido de entradas típicas de Trás-os-Montes e depois teremos, como não podia deixar de ser, a boa vitela e o bom cabrito assado desta região. Serão servidas as sobremesas e a acompanhar o repasto, os bons vinhos da zona.
O preço é de 30 euros por pessoa.
Resta pedir que tragam apetite e que confirmem para o organizador a vossa presença até ao dia 30 de Abril de 2009

ORGANIZADOR: António Augusto de Jesus Pinto Melro
S. Martinho de Antas

Telefone: 259 939 659
Telemóvel: 934 557 883



“OS DENTES ESTÃO ENVELHECIDOS, MAS AINDA OS
MORDEMOS! ESTAMOS VIVOS!”

COMEMORAÇÃO DOS 35 ANOS APÓS O REGRESSO.

VALOROSA CCAÇ 3491 QUE TANTO
PERCORRESTE……!!!!

“É MUITO!”

Junta-se mapa de acesso ao local do Almoço-Convívio para uma melhor localização.











sexta-feira, 17 de abril de 2009

A TRAGÉDIA DO QUIRAFO

Caros Camaradas e Amigos

Faz hoje precisamente 37 anos (dia 17 de Abril de 1972) que se deu a fatídica emboscada do Quirafo, a uma coluna da CCAÇ 3490 (Saltinho), causando 12 baixas (9 militares (entre eles, um alferes e um furriel), 1 sargento milícia e 2 elementos da população local), diversos feridos entre a nossa tropa, na milícia e em elementos da população e ainda um militar feito prisioneiro. Foi uma das maiores acções de guerra do PAIGC neste tipo de operações.

A todos aqueles que nesta acção perderam a vida, ficaram feridos, ao militar aprisionado, a todos os familiares que, ainda hoje, sofrem pela ausência dos entes queridos, o nosso sincero respeito, a nossa solidariedade e a tristeza pela juventude que naquele tempo se perdeu.

Junto, em seguida, a mensagem por mim enviada ao blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, sobre este assunto e que ali foi publicada.

Mensagem de Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, com data de 19 de Março de 2009:

Caro Luís Graça

O camarada Paulo Santiago(*) veio lembrar uma das piores emboscadas que ocorreram na Guiné, em que estiveram envolvidos elementos da CCAÇ 3490, pertencente ao meu Batalhão – o BCAÇ 3872 (Galomaro).

Foi um dia terrível, um desastre em que morreram 9 militares, 1 sargento milícia e 2 elementos da população ao nosso serviço, havendo ainda a lamentar diversos feridos e a captura do soldado António Baptista(**) pelos guerrilheiros.

As causas para o sucedido poderiam ser melhor explicadas pelo ex – Capitão Mil, Dário Lourenço, se quisesse vir ao nosso blogue elucidar-nos sobre os detalhes que determinaram o avanço da coluna naquela maldita segunda-feira, dia 17 de Abril de 1972, dado que o Comandante da Operação foi morto em combate na emboscada que se sucedeu. Não tendo essa possibilidade, resta-nos falar do que passou a constar no nosso batalhão.

A CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 recebeu ordens para reabrir a picada Dulombi - Jifim, que se encontrava em mau estado de conservação, porque deixara de ser utilizada, após o rebentamento de uma mina anti-carro que causou mortos na Companhia que fomos render – a CCAÇ 2700 (6 mortos– 1 soldado e 5 milícias) e, em Abril de 1972, iniciou essa tarefa, empenhando diariamente um Grupo de Combate na protecção dos trabalhos, em que estavam envolvidos elementos civis contratados para esse fim. Também a CCAÇ 3490/BCAÇ3872 (Saltinho) recebeu ordens, na mesma altura, para reabrir a estrada Quirafo – Rio Cantoro.

A Operação "Estrada Junta" iniciou-se, ao que presumo, em 10 de Abril de 1972. Diariamente foram cumpridas as tarefas, com mais ou menos dificuldade, embora sem quaisquer problemas operacionais até ao dia 18 de Abril. De facto, na zona em que rebentou uma mina anti-carro que matou elementos da CCAÇ 2700 e no meio da picada, foi detectada e levantada uma mina anti-pessoal PMD-6, pelo 2.º GComb (por mim comandado). A mina fora colocada naquela parte da picada (ao meio), em que o capim cresce melhor, dificultando a hipótese de ser detectada. Na realidade, caso fossemos em patrulha pelo local, poderíamos estar a lamentar uma desgraça. Eu próprio, estive com um pé muito perto dela, porque estava a ouvir os elementos das milícias a explicarem o que sucedera naquele local aos camaradas da 27$00. Só que prossegui e um dos elementos civis que vinha a efectuar a capinagem da estrada, logo atrás, bateu com a ponta da catana na madeira da mina, sendo então esta detectada e levantada com os habituais cuidados para estas situações.

A emboscada do Quirafo dera-se na véspera e estávamos todos ainda consternados pela morte de tantos camaradas da CCAÇ 3490 e eu muito especialmente porque me dava muito bem com o Alf Mil Op Esp Armandino Ribeiro (um dos mortos naquele combate), porque quer em Abrantes, quer no IAO (Cumeré) na Guiné, tínhamos treinado acções em emboscadas e reacção às mesmas, com os nossos Grupos. Logo a seguir foi dada ordem para pararmos com os trabalhos, ao que parece por iniciativa do próprio Comandante-Chefe, ficando a reparação da estrada por terminar, embora tivesse sido muito pouco utilizada posteriormente (unicamente em uma ou duas Operações em que foram envolvidas forças dos pára-quedistas e em que houve necessidade de os colocar e recolher em zonas mais perto do Rio Corubal).

Mas este relato prende-se, essencialmente, para referir um facto. No nosso caso, iniciaram-se os trabalhos de arranjo da estrada e quando chegámos ao fim-de-semana, as ordens foram de non-stop, ou seja mantivemo-nos sempre a trabalhar (Sábado e Domingo) o que parecia já ser uma tradição, porque também na nossa primeira Operação, após a saída dos velhinhos, na qual tivemos o primeiro contacto com o inimigo, se iniciara a mesma num fim-de-semana. Infelizmente, no caso do Quirafo, de má memória, a CCAÇ 3490, parou os trabalhos na 6.ª Feira, para os reiniciar na 2.ª Feira fatídica de 17 de Abril, dando a possibilidade do IN organizar a emboscada, com recurso, inclusive, a um canhão sem recuo, tendo o fim-de-semana todo para escolher o local e estabelecer o plano de fogos para a zona de morte.

E aqui alguma coisa nos escapa, o porquê desta decisão? As circunstâncias que levaram o Comando a ordenar o avanço da coluna de trabalhos se, segundo alguns dizem, sabiam que alguém vira o IN nas imediações e estavam alertados para este facto. Sei que o Armandino era uma pessoa generosa, disciplinada, imbuída do espírito do cumprimento dos deveres militares – um Ranger - e que, talvez nessa sua vontade de efectuar o serviço que estava previamente determinado, não tenha feito a correcta avaliação da situação, ou não tenha achado credível a informação obtida e o seu avanço com o seu GCOMB reforçado para o Quirafo, tenha sido feito sem as cautelas que, face às informações aparentemente disponíveis, se impunham, nomeadamente um avanço apeado, em vez de motorizado e ainda uma melhor distribuição do seu pessoal, talvez difcultasse aquele tipo de emboscada. Quem sabe... o que teria sido melhor?

A emboscada ainda poderia ter feito mais mortos, pois as viaturas não chegaram a cair totalmente na denominada zona de morte, dado que o condutor da primeira viatura avistou um elemento IN e lançou a viatura para a berma da estrada e a outra conseguiu retroceder e fugir da zona.

Este desastre deu-nos algumas lições, nomeadamente a sair com viaturas com os taipais erguidos, como acontecia na segurança que se fazia na estrada Piche-Buruntuma, em que o 3.º GComb da nossa Companhia quando ali esteve de apoio ao Batalhão daquela área, chamou a atenção para que as viaturas tivessem, como já era habitual em outros locais, os taipais retirados e os bancos colocados ao meio.

O nosso Batalhão chegara à Guiné em 24 de Dezembro de 1971 e aos seus locais de destino um mês depois do IAO no Cumeré. Em Abril de 1972 (em apenas 3 meses), depois da emboscada no Quirafo, o Batalhão sofrera 4 mortos em Cancolim (1 numa mina a/c e 3 numa flagelação ao aquartelamento da CCAÇ 3489) e 9 na emboscada do Saltinho (CCAÇ3490), tendo a CCAÇ 3491, tido a sorte de não ter sofridos baixas no contacto/emboscada sofrido em 11 de Março, na área de intervenção do Dulombi, ao seja 13 mortos em tão pouco tempo de Guiné.

No fim da comissão, já em Bissau, o Comando do Batalhão foi alertado por um soldado da CCAÇ 3489 (Cancolim), que fora feito prisioneiro do PAIGC e que conseguira evadir-se e que lhes referiu que o soldado António Baptista, dado como morto em combate na emboscada do Quirafo, estava vivo e era prisioneiro do PAIGC.

Nesta altura, apenas uma prece por todos aqueles que tombaram no Quirafo. Paz às suas almas.

Luís Dias

Foto feita pelo Ex-Alf.Mil, Paulo Santiago (que ao tempo comandava o PELCAÇNAT53 do Saltinho), em 2005, no local da emboscada e onde ainda se encontra a viatura GMC, onde seguia a maior parte dos elementos que perderam a vida. Foto colhida do blogueforanadaevaotres.blogspot.com, com a devida vénia.

Paulo Malu (actualmente), Comandante das Forças do PAIGC que efectuaram a emboscada no Quirafo. Foto obtida no blogueforanadaevaotres.blogspot.com, com a devida vénia.


O soldado António Baptista-Atirador de Infantaria, que foi feito prisioneiro no Quirafo, a depositar flores, na campa que tinha o seu nome, após a sua libertação e regresso ao nosso país, em Setembro de 1974 (JN).

O António Baptista, em foto recente, apelidado do "Morto-vivo do Quirafo", retirada do bloguenovesforanadaevaotres.blogspot.com, com a devida vénia.