Em virtude de um estudo que se encontra a ser feito sobre o macaco-cão da Guiné foi solicitado aos tertulianos do blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné, um contributo para este tema.
Aqui ficam os contributos do Luís Dias e do Ex-Fur. Mil. Manuel Rodrigues sobre esta espécie.
O que nós comíamos sem saber!
Em Galomaro, havia um único restaurante, que ficava à esquerda, um pouco antes do quartel, na estrada Bambadinca Dulombi, na parte de terra batida.
A CCAÇ3491 fazia o seu normal reabastecimento, em Bambadinca e Bafatá.
Como fazíamos a picada à saída e por vezes à entrada, tínhamos, pelo menos alguns de, no mesmo dia, ir a Bambadinca e Bafatá, e nem sempre havia tempo de comer em Bafatá.
No regresso ao quartel, alguns paravam no dito restaurante de Galomaro, que servia bifanas, acompanhadas de umas bejecas, claro.
Já tinha ouvido falar pelos condutores, geralmente bem informados, que não era carne de vaca, nem de porco, como dizia o dono do restaurante, mas sim de macaco-cão.
Um dia à noite, quando bebia vinho de palma e assistia impressionado, a ver um nativo, já de idade avançada, a comer piri-piri, como comemos tremoços, fui surpreendido, por nativos que mostraram diferentes caveiras.
Segundo os nativos as caveiras mais parecidas com o ser humano na região de Galomaro, eram as do macaco-cão.
As bifanas que o dono do restaurante fazia passarem por carne de porco ou vaca, também eram de macaco-cão. Segundo os nativos, as dos outros macacos era intragável e porcos, poucos havia já que a influência Balanta na região era reduzida.
A etnia Balanta criava porcos, a etnia Fula, predominante na região, provavelmente por influência Árabe, não criava porcos, cuja carne é proibida pelo Corão.
Passei a parar lá só para beber cerveja, já que fora do quartel não havia mais nada onde beber – o calor e por vezes a fome, apertavam sempre muito.
Ex-Furriel mecânico da CCAÇ3491/BCAÇ3872
Portugal, dezoito de Janeiro de 2009
Rodrigues821@gmail.com
Avistamentos de Macaco-Cão na Zona do Dulombi/Galomaro
Caros Editores
Caso queiram remeter esta pequena informação à investigadora Maria Joana Ferreira da Silva, sobre o macaco-cão no Dulombi, disponham.
A CCAÇ 3491, a que eu pertenci, esteve instalada, entre Janeiro de 1972 e Março de 1973, no Dulombi. Entre Março de 1973 e Março de 1974, a maior parte da companhia esteve instalada em Galomaro, embora permanecessem 13 elementos e 2 pelotões de milícias no Dulombi e continuassemos a efectuar acções dentro da sua área (detínhamos a maior zona territorial de intervenção, em termos de companhia). A zona tinha mais a sul os aquartelamentos do Saltinho e mais a norte Cancolim e Canjadude, e situava-se no Leste da Guiné.
Na primeira operação em conjunto com a companhia que fomos substituir - a CCAÇ 2700 - (1 de Fevereiro de 1972) e ao fim da tarde tomei pela primeira vez contacto com os babuínos e, pela forma peculiar com que se expressavam - latiam como cães - ficámos convencidos de que se tratava de cães do IN, pois ali era terra de ninguém e só nós ou os guerrilheiros por ali poderiam andar. É claro que a velhice e os milícias colocaram um riso malandro, fazendo crer, primeiramente, que eram os cães do PAIGC e só depois nos acalmando, dizendo que era um bando de macaco-cão.
Durante as operações que efectuámos na zona do Dulombi, entre esta população e o Rio Corubalo, vimos muitas vezes bandos destes macacos, também chegámos a observá-los na picada (estrada) entre Dulombi e Galomaro. Quando estávamos instalados durante algum tempo atreviam-se a aproximarem-se, embora com cautelas. Havia sempre uns indivíduos maiores que ocupavam posições mais elevadas, como um morro de baga baga ou uma árvore, parecendo ficar de vigia. Faziam por vezes um barulho ensurcedor, mas na maior parte do tempo pareciam estar sempre na brincadeira. Pareciam grupos grandes, de 40/50 indivíduos.
Quando a população do Dulombi plantava a mancarra, deixavam sempre alguém a tomar conta da plantação, seja para afastar os babuinos, seja para os dissuadir através de tiros de mauser. Não temos conhecimento de qualquer ataque deste tipo de macacos, seja à tropa, seja à população, embora sejam aguerridos. Numa da vezes em que estávamos instalados para efectuar um descanso, um bando de babuínos surgiu e como estavam a fazer um barulho muito intenso, os meus soldados fizeram uma aposta comigo em como não era capaz de atingir um dos mais barulhentos que víamos a mexer por entre as árvores, a uma distância de perto de 80/100 m. Como tinha a mania que tinha boa pontaria e perícia, pensei: vou apenas pregar um susto ao bicho. Rodei o diópter do aparelho de pontaria da G3 para a alça de 300 m e apontei ao lado do macaco e disparei. Para minha surpresa, o animal caiu da árvore, chegando ao chão morto. Tinha-lhe acertado em cheio, apontei ao lado, mas houve qualquer desvio e o tiro foi fatal. Foi uma burrice....uma traquinice pouco ecológica e respeitadora de outros seres vivos. Raio de aposta!
Contava-se "estórias" de que os Fulas comiam macaco e que mesmo esse petisco havia sido provado por militares nossos, mas não sei se é verdade. No quartel não haviam babuínos em cativeiro, unicamente um macaco mais pequeno que pertencia ao escriturário da companhia (espécie macaco verde), mas que foi "fuzilado" por mim quando o apanhei a arrancar a cabeça dos nossos pintainhos, que criávamos para nos alimentar posteriormente.
Não era conhecida a expressão “cabrito pé de rocha”, como sendo o nome atribuído ao macaco-cão, quando era cozinhado.
Um abraço
Luís Dias