segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

VOTOS DE UM FELIZ NATAL E UM BOM ANO 2010



CAROS CAMARADAS E AMIGOS DA C. CAÇ. 3491 (Dulombianos em geral)

DESEJO A TODOS, BEM COMO ÀS VOSSAS FAMÍLIAS, UM SANTO E FELIZ NATAL

E UM BOM ANO 2010

QUE A VIDA VOS PROPORCIONE TUDO AQUILO QUE AMBICIONAIS E VOS DÊ,
PRINCIPALMENTE, MUITA SAÚDE E PAZ.

SÃO OS DESEJOS DO EDITOR



(LUÍS DIAS)



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O CINEMA NO DULOMBI

Detrás do monumento aos mortos dos nossos "velhinhos" (a CCAÇ2700), podemos ver o refeitório, onde foi instalado o "cinema" do Dulombi.

O CAVALO DE FERRO DE VISITA AO DULOMBI

Aquartelados no Dulombi, desde Janeiro de 1972, os elementos da CCAÇ 3491 íam passando os dias em operações semanais para os lados do Rio Corubalo, em emboscadas nocturnas, picagens para as colunas semanais a Bambadinca/Bafatá/Galomaro para reabastecimento e em serviços que o Capitão tratava de arranjar diariamente no quartel para os manter ocupados (limpeza do quartel, arranjo das valas, segurança e transporte da água do rio para abastecer o aquartelamento, etc.).

Como distracções lá tínhamos umas futeboladas, umas trocas bem assanhadas de caneladas, mormente quando ao fim de semana fazíamos um Benfica - Outros (Sporting + FC Porto), em qua havia as habituais apostas (grades de cerveja ou garrafas de uísque), entre mim (um lampião orgulhoso) e o Furriel Enfermeiro Nevado (um lagarto ferrenho), isto para além dos jogos de cartas habituais.

Outro momento alto de distracção, isto para alguns dos graduados, eram os "petiscos" organizados por uma comissão composta por: Alferes Dias (2ºGC) e Parente (4ºGC), 1º Sargento Gama e Furriéis: Nevado (Enfº), Batista (1ºGC), Gonçalves (2ºGC), Espírito Santo (2ºGC), Machado (4ºGC e já falecido), Carvalho (4ºGC) e Fonseca (o nosso vagomestre e recentemente falecido no trágico acidente na praia Maria Luísa). Todos os meses eram nomeados dois membros para gerirem as quotizações com que todos entravam para conseguir adquirir géneros, ou na tabanca ou em Bafatá, para elaborar uns tentadores petiscos com que nos banqueteávamos quando regressávamos das operações "famintos" e para reforçar os almoços domingueiros, normalmente uma belíssima sopa alentejana, preparada pelo nosso 1º Sargento (um alentejano de gema).

Um dia surgiu no Dulombi uma equipa projeccionista de Bissau que vinha entreter as tropas com a exibição de um filme: coisa diferente, tremenda alteração da rotina.

Privados de televisão e de cinema, a chegada desta equipa itinerante foi um acontecimento recebido com entusiasmo por todos. O cinema improvisado foi instalado no refeitório dos praças. Nesse princípio de noite lá se acomodaram as tropas, os milícias e também muitos elementos da população que estavam ansiosos por verem o filme. Não sei se os guerrilheiros do PAIGC sabiam da projecção, mas de facto fomos deixados em paz.

A projecção era de um daqueles tradicionais filmes de cowboys e índios, já não me lembro se protagnizado pelo John Wayne, o Henry Fonda, o Yul Brynner, ou outro famoso actor daqueles tempos. A coisa foi correndo de feição com o público entusiamado com a acção que se passava no ecrã. Contudo, a determinado momento, surge no filme, vindo do fundo de cena, um comboio, o qual avançava a toda a força do carvão em direcção à boca de cena, enchendo num repente todo o cenário, acompanhado de um barulho ensurdecedor, parecendo querer saltar do pano ou lona que serviam de ecrã para galgar para cima dos assistentes. A rapaziada já habituada a estas fitas ficou impávida e serena, mas com o pessoal africano é que a coisa fiou fino.

Aquele cavalo de ferro, como lhe chamavam os índios, parecia vir para cima dos espectadores e, como é sabido, não havia comboios na Guiné, isso provocou um alvoroço muito grande e muitos deles desataram a fugir, provocando o gáudio entre a restante assistência. Alguns ainda regressaram depois de chamados pelos militares, mas outros só devem ter parado já bem dentro da tabanca.

Foi um momento engraçado, de grande perplexidade da nossa parte por vermos os africanos a fugir do filme....mas houve também alguns dos nossos que efectuaram uma retirada "estratégica", não por causa do comboio, mas por verem os africanos a dar o "gosse", convenceram-se que era por causa do IN.

Os africanos, na sua maioria, nunca tinham visto um comboio e aquilo era, na altura, muita carruagem para formar uma "coluna" normal, das que eles estavam habituados, ainda por cima a resfolegar daquela forma.

Foi um dia/noite bem diferente que provocou a boa disposição entre o pessoal.

Luís Dias
Ex-Alf.Milº