Tivemos conhecimento que depois da CCAÇ 3491 ter saído do Dulombi/Galomaro, de regresso a casa, a 1ª Compª do BCAÇ 4518/73, saíu também de lá quase de seguida para Galomaro, conforme relato feito pelo Ex-Alf. Joaquim Tinoco, transcrito para este blogue, mas que, já depois do 25 de Abril, um Gr. de Comb. da CCAÇ 3547, "Os reptéis" de Contuboel, foi ali colocada, por pouco mais de um mês. É um pequeno relato que aqui juntamos do Ex-Fur., Manuel Oliveira Pereira, que comandava esse Gr. de Comb., recebido por mail, e que com a devida vénia e autorização reproduzimos.
É espantoso que dois meses depois de sairmos do nosso Dulombi, o quartel se tenha degradado tanto e que tenha ficado na situação relatada. Lembram-se, concerteza, do Rio Fandauol que nos abastecia, da água que tinhamos para os nossos banhos, das razoáveis instalações, de ali ter-mos convivido. uma companhia e dois pelotões de milícias. Pois o nosso camarada reproduz uma realidade, que nos parecia impensável, para quem ali viveu grande parte da comissão de quase 28 meses de Guiné. Quando sairam do Dulombi apenas ficaram as milícias.
Um abraço para esses últimos moicanos que tiveram o "azar" de estarem numas instalações degradadas, que nós estimaramos tanto e o que Cap. Pires nos fez trabalhar para as merecermos e as tornar habitáveis e dignas de gente tão jovem, a milhares quilómetros de casa e das suas famílias.
P.S. A CCAÇ 3547, pertencia ao B.CAÇ 3884, sediado em Bafatá. Aconselho a lerem o Post P1706 do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, sobre a possibilidade deste BCAÇ intervir em favor do MFA, caso as coisas no 25 de Abril, tivessem corrido de modo diferente.
Luís Dias
Caro Luís Dias,
Obrigado pelo teu e-mail.
Mesmo antes de o receber, tinha pensado responder ao teu repto – o encontro.
Na verdade, estive com o meu Grupo em Galomaro e posteriormente no Dulombi. Presumo que as razões que me levaram até lá e, consequentemente o meu Pelotão, se deveram antes de mais, às minhas constantes desavenças com o ditador e prepotente CMD de Batalhão de Galomaro. Explicando melhor:
Estávamos no mês de Março de 1974 – tinhamos acabado de fazer 24 meses de comissão – quando fui destacado (mais uma vez, tinha estado antes em Sare Bacar) com o meu pelotão para reforço do Comando do Batalhão periquito sediado em Galomaro. Chegados lá, encontrei um CMD cretino (não recordo o nome) que fazia gala de dizer que tinha o tirocínio de oficial general, que dava ordens às suas tropas como se estivesse em qualquer unidade, em tempo de paz, na metrópole, que se vestia como qualquer funcionário em gabinete e que tinha um profundo desprezo (não disfarçava) por tudo a que cheirasse a "miliciano". Os seus jogos de guerra (briefings) eram feitos como se de "legos" se tratasse. O homem desconhecia a guerra de guerrilha, a orografia e tipo de terreno e, muito menos a respectiva área de jurisdição (perímetro). As nossas discussões eram frequentes. Insistia em me querer impor a disciplina dos gabinetes de Lisboa (ainda se fosse a do ar condicionado de Bissau) e ainda apelidando-me constantemente de escumalha miliciana. Obviamente que não lhe poupava resposta. Recordo que uma vez lhe chamei idiota – exactamente idiota, quando ele gritava com um dos "seus" alferes para que este (coitado) mandasse calar os cães que uivavam quando ouviam os toques de clarim no içar da bandeira.
Bom, resumindo: por força (talvez) destas disputas, ordenou-me que e, pela experiência acumulada (disse-me que tinha recebido ordens de Bissau), fosse ocupar o Dulombi. Vou para lá por altura da Páscoa.
Chegado lá, deparo-me com 5 soldados brancos que mais pareciam um grupelho de loucos, um pelotão de milícias, umas instalações degradadas, sem água (pelo que vi, foram em tempos excelentes), torres de vigia, ocupadas pelas milícias como se sua casa fosse, sem alimentação quente, tendo por base apenas rações de combate.
Como primeira medida, mandei cortar alguns bidões de forma a formar cilindros (manilhas) para serem enterrados como "POÇOS" à entrada do aquartelamento onde existia uma zona pantanosa. Conseguíamos assim a água necessária para a nossa presença naquele cu de judas. Saímos do Dulombi a meio de Maio. Desconheço se após a nossa saída (viemos todos com excepção da milícia) mais alguém foi para lá. Nesta presença no Dulombi, não tivemos qualquer contacto com o IN.
Tinha entretanto acontecido o 25 de Abril e foi com grande alegria, no meu regresso a Galomaro, que soube, que o prepotente CMD tinha sido levado sob prisão por elementos do MFA.
Um abraço,
Manuel OLIVEIRA PEREIRA