Caros Camaradas
Junto anexo um post lançado no blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, em 18 de Junho, sobre a nossa pista para aviões DO-27, do Dulombi (com a devida vénia), bem como comentários do Luís Dias e do Fernando Barata (ex-Alf da CCAÇ2700 - os nossos "velhinhos").
"Lembro-me que nas operações do Grupo Operacional 1201, na BA12, havia um arquiuvador muito prático onde estavam registados dados de todas as pistas existentes no território e que, para além das caracterísiticas específicas de cada uma (comprimento, largura, orientação, condições de utilização, limitações, etc.), incluía fotografias de cada pista, algumas dels tiradas à vertica das mesmas.
Estes dados eram muito importantes para o aviador, principalmente no início da comissão, quando ainda não tinha grande con hecimento do terreno. O número elevado de pistas existentes (cerca de sessenta), a falta de visibilidade horizontal durante uma época do ano e o facto de as pistas por vezes se sucederem num espaço de terreno relativamente curto podiam induzir em erro os menos experientes.Ninguém gosta de aterrar num determinado sítio e descobrir que o que queria é mais ao lado, principalmente quando a pista é afastada do aquartelamento e afinal não há qualquer segurança montada no local.
Por isso era habitual passarmos pelas Operações para visualizar os sítios onde íamos pela primeira vez. Daí ser natural já ter por vezes um conhecimento virtual de determinada pista mesmo antes de lá ter ido - uma espécis de flight simulator da época.
Uma vez recebi um incumbência curiosa; tratava-se de ir abrir ao tráfego aéreo uma pista (Dulombi, senão me falha a memória), isto é comprovar que aquela pista estava em condições de ser utilizada pelos nossos DO-27. Fiquei curioso com esta missão, mas uma visão das fotos da pista rapidamente me elucidou. -na tal fotografia feita à vertical da pista pude verificar que, ao contrário do que sucedia com outros aeródromos, em que a placa a placa de helicópteros surgia, normalmente, ao lado da pista, a uma distância de segurança (1), aqui essa placa surgia cravada no meio da pista, dividindo-a em duas partes mais ou menos iguais, uma para cada lado.
É natural que, tratando-se de duas construções de diferente tipo, uma em cimento e outra em terra batida, a sua utilização intensa (o que não seria no entanto o caso) e principalmente os efeitos da natureza podiam levar à degradação das duas junções e criar um degrau fatal para qualquer avião que ali tentasse aterrar. Assim, durante a época das chuvas, as águas que corriam ao lado da placa de helicópteros arrastavam as terras adjacentes deixando a placa saliente e impedindo a utilização da pista, dado que qualquer das tiras remanescentes (uma para cada lado, recorda-se) eram insuficientes para o DO operar.
Portanto, todos os anos, depois das chuvas terminarem, havia que proceder à recuperação da pista nas zonas adjacentes à placa, de modo a permitir a passagem dos aviões por cima desta sem sobressaltos.
A minha missão não teve problemas de maior, dado que as terras haviam sido repostas e a pista podia ser utilizada em segurança. Mas sempre me interrogava porque havia sido tomada esta opção (falta de espaço para a placa noutro local?) que tornava sazonal o uso daquela pista. É que, sabendo-se das dificuldades sentidas pelos nossos militares nas zonas mais isoladas, a pista de aterragem era sempre uma mais-valia que podia reduzir um pouco esse isolamento e limitar as carências daí resultantes.
NOTA (1): Tratando-se de uma construção em cimento, muitas vezes saliente do chão cerca de um palmo, podia ser um obstáculo intransponível se se perdesse o controlo do avião e ele embicasse na direcção da placa (normalmente por causa dos ventos, pontualmente também me chegaram a aparecer à frente vacas e cães, durante a aterragem....). Pelo menos lembro-me de um DO-27 imobilizado sobre os dois cotos que tinham sido oso trem de aterragem, no meio de uma placa de helicópteros, devida à perda do controlo do avião durante a descolagem. Já não cheguei a ver lá o avião, mas as marcas deixadas pelos cotos eram ainda bem visíveis.
Um abraço
Miguel Pessoa
Ten Pilav da BA12
Caro Miguel Pessoa
Já não me recordo porque a pista estava do Dulombi estava colocada como tu referes, ms posso acrescentar que a pista foi feita pela minha companhia e que o heliporto já ali estava, porque foi contruído pela CCAÇ2700, nossa antecessora. Devo acrescentar que sempre ali pousaram DO-27, mas com as chuvas ficava impraticável, tendo de ser reparada com frequência. Tinha até garrafas de cerveja enterradas (contendo gasolina ou petróleo?) para iluminar a pista durante a noite em caso de qualquer emergência. Vou contactar o ex-capitão Pires para ver se ele se lembra da construção da pista e depois informo-te do que apurar.
Um abraço do tamanho do Rio Corubalo
Luís Dias
Ex-Alf. Mil da CCAÇ3491
Guiné 71-74 (21/6/2010)
Caro Miguel Pessoa
Conforme referi no comentário anterior, contactei o ex-Capitão Fernando Pires, cmdt da CCAÇ3491, instalada no Dulombi entre Janeiro de 1972 e Março de 1973 (a companhia foi para Galomaro - sede do Batalhão e regressámos novamente ao Dulombi em Janeiro de 1974, para preparar a recepção aos piras, embora semanalmente ali continuassemos a efectuar operações e colunas e onde tinham ficado 13 homens e 2 pelotões de milícias, comandados por um Furriel) e tendo-o questionado sobre o problema da pista para DO-27 que tu referes, ele disse-me que dado o tempo decorrido já não se recorda dos pormenores da construção da mesma.
O que te posso dizer mais é que o lado da pista era um dos melhores protegidos do aquartelamento (2 morteiros 81mm e vários 60 mm tinham os espaldares desse lado), sendo também o lado da saída da picada para Galomaro.
Um abraço do tamanho do Rio Corubalo
Luís Dias (23/6/2010)
Olá Luís
Certamente terás visto no blogue do Luís Graça um post colocado pelo Miguel Pessoa, em que este se referia à pista do Dulombi.
Relatava que após um período em que a nossa pista esteve inoperacional incumbiu-lhe a ele fazer o voo de teste à mesma.
Ora acontece que durante o nosso "reinado" a pista foi fechada, presumo após um pilto se ter queixado que a mesma tinha certas irregulariedades, sendo preconizado como solução a construção de uma caixa de gravilha com determinada altura o que seria, como deves imaginar, uma tarefa ciclópica atendendo aos meios que possuíamos. Assim, o nosso capitão abandonou liminarmente a ideia de recuperação, com muita pena minha pois volta e meia recebíamos alguns voos que nos traziam o correio e alguns frescos.
Como te referi o Miguel Pessoa foi ao Dulombi para aprovar a pista. A minha pergunta é: Foram vocês que fizeram todos os trabalhos necessários (a tal caixa de gravilha) de molde a tornar a pista operacional?
Abraço
Barata
Caro Barata
Como acima refiro o Ex-Capitão Pires não se recorda dos pormenores da construção da pista e eu sinceramente também não sei se foi efectuada ou não a tal caixa de gravilha, mas julgo que não (?). O que acontecia é que arranjávamos continuamente a pista no tempo das chuvas para que ela pudesse estar operacional. Vivemos uns tempos conturbados em matéria de abastecimentos de frescos, com as primeiras chuvas e com as dificuldades de efectuar colunas a Galomaro/Bafatá/Bambadinca para reabastecimento e com os problemas com a pista. Segundo penso, chegámos a receber material lançado em voo baixo, de páraquedas.
Como tu dizes a pista era um meio importante de reabastecimento e para receber o correio e nós enquanto pudemos aproveitámos. Muitas das vezes era também o helio que nos trazia o correio.
Um abraço
Luís Dias
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